Recebi pela Internet e por mensagem eletrônica um aviso sobre a possível preparação de filme intitulado Corpus Christi (O Corpo de Cristo), pelo cineasta Richard Kelly, autor de Donnie Darko, Southland Tales e A Caixa. Nesse novo filme Jesus seria caracterizado como homoafetivo, nova denominação de pessoa gay. Antecipadamente à elaboração, o filme está sendo denunciado como “paródia repugnante de Jesus”. Há quem proponha já uma campanha para “evitar a projeção deste filme no Brasil e até em outros países”. O dramaturgo americano Terrence McNally, com a peça teatral de mesmo nome, Corpus Christi (1999), provocou uma sentença de morte pronunciada pelo mulá Omar Bakri Mohammad.
A história humana foi e será muitas vezes reinterpretada. Os tempos correm e distanciam os fatos históricos de suas origens. As lendas que se arrastam por séculos recebem nova interpretação e redação. Até canções infantis, cuja letra reproduzia sentimentos de sadismo, hoje, são revisitadas e modificadas. Minha filha, na creche, aprendera a cantar: “Atirei o pau no gato to to...” Minha neta, 34 anos depois, no embalo da volta à natureza, tem nova versão: “Não atire o pau no gato to to, pois o gato to to é nosso amigo go go...”
Lendas e doutrinas religiosas que, em sua origem, expressam espiritualidade, medo, ânsia do desconhecido, necessidade de vencer a morte, conceber e crer num ser poderoso e superior capaz de proteger as pessoas também se confrontam com novos tempos. Jesus, por suas características taumaturgas, ampliadas pelas interpretações de seus seguidores, ao longo de dois milênios, não escapa à curiosidade de exploradores de lendas.
A Igreja católica, principalmente, sempre apresentou Jesus como uma das três pessoas divinas, sem começo nem fim, referidas no gênero masculino: Pai, Filho, Espírito Santo. São pessoas homogêneas, igualmente divinas e eternas, indissoluvelmente homoafetivas. Uma delas é personificada como Amor. Conclui-se que é próprio da natureza divina de Jesus ser homoafetivo. Ensina-se, na teologia, que ele se dispôs a integrar-se à humanidade, principal obra do Criador. O fato de cumprir sua missa na Terra, amparado em doze pessoas do gênero masculino, sugere que a felicidade e a paz da humanidade dependem do amor entre os homens. Entre esses doze, um deles, João, era o discípulo amado mais que os outros. O ciúme de Judas teria corroído sua fidelidade não correspondida por Jesus a ponto de entregá-lo aos inimigos por pregar doutrinas contrastantes com as dos deuses romanos em decadência.
Não há crime em interpretar uma lenda milenária à luz dos comportamentos modernos. A forma de olhar antigas tradições de origem oral e, posteriormente, registradas em documentos, repõe os fatos diante da realidade que se apresenta nos dias atuais. A tolerância foi ensinada por Jesus que, sendo pessoa divina homoafetiva, no conjunto da Trindade, ensinou a homoafetividade como atitude sã na convivência humana. Em geral, as igrejas cristãs são homofóbicas, contrariando a principal lição de tolerância e compreensão entre as pessoas. A Jesus são atribuídas a natureza divina e a humana em sua perfeição máxima. É, portanto, dupla a homoafetividade do Nazareno. É, ao mesmo tempo, heteroafetiva amando Maria Madalena e homoafetiva retribuindo o amor de João na última e íntima ceia.
Se Richard Kelly rodará o filme segundo os roteiros que circulam em mensagens eletrônicas só o tempo aclarará. Estranhamente, porém, a informação que se tem, até o presente é de que a trama se passa no Texas, na qual um veterano da Guerra do Iraque, mentalmente instável, forma uma amizade estranha com seu chefe, um político rico e ambicioso, dono de uma cadeia de supermercados. Qualquer semelhança com o evangelho será mera coincidência.
Um comentário:
Devia ter vergonha de falar desse escroque!!! É um babaca sem talento nenhum.
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