sexta-feira, 14 de novembro de 2014

A ÁRVORE DA SERRA


HOMENAGEM A MANOEL DE BARROS
(Foto: Eugênio Giovenardi, Sítio das Neves, DF)

Se não quiserem ouvir especialistas, desmatadores,
ouçam os golpes certeiros do poeta e envergonhem-se.


A ÁRVORE DA SERRA

– As árvores, meu filho, não têm alma!
E esta árvore me serve de empecilho...
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!

–  Meu pai, por que sua ira não se acalma?
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?1
Deus pôs almas nos cedros... no junquilho...
Esta árvore, meu pai, possui minh’alma!...

– Disse – e ajoelhou-se, numa rogativa:
“Não mate a árvore, pai, para que eu viva!”
E quando a árvore, olhando a pátria serra,

Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!


Augusto dos Anjos

Nenhum comentário: