terça-feira, 23 de dezembro de 2014

A NATUREZA DAS COISAS



A natureza é um conjunto de partes interligadas que formam um sistema operativo universal. Neste conjunto há elementos inanimados associados a distintas formas de vida com diferentes funções interdependentes. O conjunto dos seres vivos forma a biocomunidade.
Todos os seres da biocomunidade são dotados geneticamente de virtudes e energias para garantirem sua sobrevivência e reprodução. Uns têm mais virtudes e energias que outros, mas suficientes para desempenhar sua função no conjunto, desde a bactéria até o elefante, da ameba ao ser humano.
Todos os seres da biocomunidade vivem no mesmo espaço planetário sem fronteiras rígidas e intransponíveis. Todos os seres vivos se alimentam das mesmas proteínas e minerais disponíveis e, pela diversidade das funções, usam suas virtudes e energias para manter as partes do conjunto em funcionamento. Os pássaros comem frutas e disseminam as sementes para ter mais alimentos para si e para seus descendentes.
Cada elemento do conjunto tem geneticamente a virtude de manter o sistema natural funcionando para sobreviver e se reproduzir. A espécie humana é um dos bilhões de componentes do conjunto. E parece ser a única a usar sua virtude e energia para interferir nas funções dos elementos do conjunto a fim de submetê-los a seus interesses de sobrevivência e reprodução. Desenvolveu, ao longo de milênios, suas virtudes e energias para manipular o sistema da natureza em benefício exclusivo de sua espécie.
As trágicas consequências de sua desorientada compreensão do funcionamento do sistema natural, que o poeta romano Lucrécio definiu como “natureza das coisas” (De rerum natura), não só perturbam a natureza. Elas ameaçam a própria sobrevivência da espécie exploradora e imperialista. Umas das piores tragédias dessa desorientação é a guerra de extermínio movida pelo ser humano contra sua própria espécie. Fez da guerra uma irracional estratégia de controle da expansão demográfica e apoderamento soberbo das riquezas naturais destinadas à sobrevivência e reprodução de todos os seres vivos.
Há mais de quatro décadas, porém, em vários pontos do planeta, esboçam-se gritos de alerta e socorro diante da catástrofe provocada pela espécie humana contra si mesma. Esses gritos e alertas da consciência humana propõem a canalização de sua virtude e energia no sentido da preservação do sistema natural. A consciência de parte da espécie humana se reorienta para a compreensão de suas falhas no funcionamento do sistema natural e correção gradativa dos erros praticados. A ação autoritária da espécie humana sobre o conjunto da natureza se manifesta não só na destruição de espécies vivas para sempre, como na degradação de suas funções na manutenção da ordem natural das coisas.
A preservação do funcionamento do sistema natural, para que todos os seres vivos desempenhem suas funções interdependentes no conjunto de virtudes e energias, começa na compreensão do elemento fundamental gerador de vida: a água.
Não pode haver preservação ambiental e reorientação ecológica sem respeito à fonte de vida. Da água surgem todas as formas de vida. E as árvores (as espécies vegetais) que nascem das águas são as que preservam os mananciais, os lagos e os rios. A associação da água com as plantas é a mais sólida empresa da natureza para a preservação de todas as formas de vida do planeta.
A preservação ambiental depende da imprescindível associação das funções da água e das plantas. É nestes dois elementos do conjunto que, infelizmente, se concentra a desorientação das virtudes e energias da espécie humana.
Essa desorientação se manifesta mais desastrosamente nas práticas inadequadas de produção de alimentos, de desflorestamento e defaunação, de construção de abrigos, na urbanização desordenada, nos parques industriais e na queima de lixo fóssil.
A natureza guardou, bem guardado, durante milhões de anos, tipos de lixo que poderiam danificar a vida no planeta. A espécie humana os descobriu e os desenterrou. Primeiro, o carvão, no começo da era industrial contaminando o ar com fumaça tóxica. Depois, certo óleo que se refugiava entre pedras denominado petróleo. A espécie humana não só queima lixo fóssil em quantidades alarmantes, destrutivas das condições de vida, como produz diariamente perigosos volumes de lixo que infestam o ar, matam plantas e poluem as águas.
O grito da Revolução Industrial deve ser substituído pelo grito revolucionário Plantar Árvores. As árvores propiciam a formação de rios superiores. Preservam os rios de superfície. Garantem a recarga dos rios subterrâneos. É o consórcio água-plantas.
A espécie humana tem, hoje, tecnologias adequadas para compreender melhor a natureza das coisas e conduzir sua virtude e energia na inteligente obra de preservação de todas as formas de vida.
A natureza das coisas convida a espécie humana a integrar-se como elemento do conjunto natural e desfrutar da interdependência de todos os seres vivos da biocomunidade do planeta Terra.

21.12.2014


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