segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O PRECONCEITO ESTÁ VIVO

Por ter completado os primeiros oitenta anos, não tenho obrigação de votar. Mas como cidadão livre não escondo minha opinião.
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Opositores à candidatura de Marina questionam sarcasticamente: será ela capaz de governar? Perguntaram isso de Sarney? De Fernando Henrique Cardoso? De Collor de Melo? Adversários em outra época não duvidavam de Lula? Importaram-se os eleitores com a inexperiência de Dilma eleita presidente na primeira aventura eleitoral? Todos eles chegaram ao governo. Todos eles governaram como nunca antes neste país.
Agora, volta-se a perguntar de Marina se ela será capaz de governar. O preconceito social disfarçado é usado por intelectuais, jornalistas, ex-companheiros de partido, opositores de esquerda, especialmente por quem não quer perder o poder. Esse mesmo preconceito é usado hoje por aqueles a quem essa mesma flecha fez tanto mal.
Marina, meio índia, meio negra, brasileira do Acre, nasceu no seringal amazônico. Como milhões de brasileiros leu a realidade do país sem saber ler. Sem saber ler em livro, percebeu as raízes do Brasil. Ela foi capaz de vencer o analfabetismo, a leishmaniose, a malária, os grileiros da Amazônia. Foi capaz de ser vereadora. De ser deputada estadual. De chegar ao Senado Federal. Foi capaz de ser ministra do Meio Ambiente. Só Marina e José Lutzenberger foram, até o presente, ministros qualificados para o Ministério do Meio Ambiente.
Todas as contradições do Brasil estão reunidas em Marina. Ela é, entre todos os candidatos, a única que viveu essas contradições. Pede-se coerência a Marina. FHC pôde ser incoerente. O torneiro mecânico sindicalista Lula pôde ser incoerente. A ex-guerrilheira Dilma pôde ser incoerente.
O que exigem de Marina seus adversários? Que vença o imperialismo financeiro internacional? Qual governo o venceu? Que empobreça os bancos? Qual governo os empobreceu nesses últimos vinte anos? Que faça a reforma agrária? Quem a fez até hoje?
Por que Marina não será capaz de usar o dinheiro do orçamento para pôr comida no prato dos famintos da nova classe média? Por que Marina não será capaz de usar o dinheiro público para o salto de qualidade da educação fundamental? Por que Marina não será capaz de usar o nosso dinheiro do BNDS para equipar hospitais onde morrem brasileiros na fila de espera? Por que Marina não será capaz de humanizar nossas cidades com transporte decente, eficiente e confortável com menos queima de combustível fóssil? Por que Marina não será capaz de extirpar o câncer corruptor que espalhou metástase na Petrobrás? Por que Marina não será capaz de usar o dinheiro público para proteger nossas florestas, nossas árvores, nossos rios, nossas nascentes e fazer da agricultura ecológica uma resposta inteligente às mudanças climáticas?
Se o país teve generais no governo, um eminente sociólogo, um torneiro mecânico, uma ex-guerrilheira, por que não há de ter uma seringueira presidente do Brasil?
O preconceito poderá derrotar Marina, mas não apagará de seu rosto moreno os sinais inconfundíveis da realidade brasileira vivida por três quartos da população. E como milhões de brasileiros, Marina é frágil, doente e capaz.

Sim, Marina é capaz!

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