A interdependência dos seres vivos é necessária à
preservação da vida. É também útil e, muitas vezes, cruel e dolorosa.
Um predador faminto comeu, nessa noite passada, os
quatro patinhos que nasceram há poucos dias. Essa violência resultante da fome
tem origem na devastação do cerrado praticada pela mão humana. Não há, nos
arredores de meu Sítio das Neves, comida suficiente para determinadas espécies
de carnívoros e onívoros.
Os galinheiros e pateiros têm que ser protegidos para
salvar parte da criação. Uma das soluções práticas é fazer creches e gaiolas
confortáveis para proteger os pequenos. Os grandes, bem ou mal se safam.
Damos pouca atenção ao fato de que os bichos e as
árvores sabem, têm bússola precisa e memória acurada. As árvores sabem quando é
tempo de desfolhar-se para poupar energias; quando é tempo de revestir-se de
folhas para transformar carbono em oxigênio; quando é tempo de florescer para
dar frutos e produzir sementes não só para reproduzir-se como para alimentar
outras vidas; quando dirigem suas raízes para os veios de água e esparramam os
galhos para os quatro pontos cardeais com o fim de obter todos os ângulos da
luz do sol.
Há bichos que têm memória exata de onde possam achar a
comida fácil se uma vez lá a encontraram. O local preferido pelas patas para
pôr e chocar seus ovos foi descoberto há anos por raposas e lagartos.
Ontem, lembrei-me da possibilidade de uma pata choca ser
levada para a toca da raposa. Bem cedo, fui constatar se os patinhos já estavam
rompendo a casca dos ovos para verem a luz. A pata não estava mais no ninho. Na
madrugada, a raposa levou a pata e deixou os ovos para seu amigo lagarto. Penas
soltas davam o rastro da direção para onde foi arrastada.
Estamos rodeados de sabedoria vegetal e animal.
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