Com prazer publico artigo do geógrafo Dr. Aldo Paviani em meu blog para
ilustração dos leitores.
Aldo
Paviani
Professor
Emérito, pesquisador associado da UnB e
geógrafo
da CODEPLAN/DF
A transferência da Capital do Rio de
Janeiro para Brasília, não ocasionou apenas mudanças de órgãos públicos e
empresas. Os desbravadores acompanharam os pioneiros. Desnecessário se torna
descrever o esforço dos construtores que, em outubro de 1956, ergueram o
‘palácio de tábuas’ – o Catetinho – a residência de JK. Passados 57 anos desse
épico evento, por onde passaram os tratores, o ambiente foi modificado – como
não poderia deixar de acontecer. O Catetinho é o exemplo de preservação com a
exuberante mata e nascentes, ao fundo do terreno. Nas demais obras, primou o
modelo, disseminado até hoje, de “terra arrasada”, que trará indesejadas
consequências futuras. Portanto, algo a evitar com constância.
Isso
nos mostra que, havendo o primado civilizado da conservação, toda obra pode
prosseguir sem acabar com o bioma Cerrado. As plantas nativas deveriam estar
por toda a parte, pois elas mantém desejável bonança ambiental e águas
subterrâneas. Por isso, as nascentes abafadas, o cerrado eliminado desde o
início, por depredação até a última raiz de grama, deve cessar. O esforço de
hoje é evitar a história repetitiva do que aconteceu com as sucessivas
cidades-satélites, com povoamentos no estilo “um terreno, uma casa, uma
família”, tal como aconteceu no Gama (1960), em Ceilândia (1971), Samambaia
(1989), etc. e, mais recentemente, com o bairro Sudoeste e com o suposto
“bairro ecológico” do Noroeste. No lugar dessa forma de povoar, um novo modelo
deve ser introduzido com a preservação de plantas, animais, do ar e do lençol
freático.
O povoamento moderno, deve ensejar a guarda
dos bilhões de litros de água vindas das nuvens para os mais diversos fins.
Aliás, após os abafados e secos meses de estio, virá o período chuvoso com
alagamentos e torrentes avassaladoras. O
que estiver no caminho correrá para o lago Paranoá. Assim, o lixo e os dejetos
que a população joga nas ruas e avenidas é um problema ambiental enorme, que
resulta não é apenas no atulhamento do lago, mas no desperdício de água por
falta de infiltração no solo e as possibilidades de abertura de crateras
(voçorocas) ocasionadas pelas enxurradas. Então, cada novo edifício erguido se
obrigará a plantar árvores do Cerrado, construirá tanques para estocar milhares
de litros de água da chuva, captadas no telhado e superfícies cimentadas – como
em estacionamentos. Todo o DF será beneficiado. É o que desejamos.
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