Especialistas, teóricos ambientalistas, economicistas,
equilibristas ambientais acomodaram o conceito de sustentabilidade sobre três
pilares: social, econômico e ambiental. Outros acrescentam a coluna “cultural” pondo o
edifício conceitual sobre quatro pés. O cultural é vasto e engloba tudo o que os
outros três escondem: comportamentos, educação, planejamento, gestão. Com esta
maquete parece resolvido o impasse da sustentabilidade.
A referência principal desse esquema está posta sobre
as desigualdades globais, não só nacionais ou regionais. A proposta é produzir
comida e bens para alimentar e dar conforto a toda a população mundial. O
social e o econômico dependem do pilar ambiental, isto é, dos biomas espalhados
pelo planeta que propiciam a fertilidade da terra para cultivá-la.
Parece que a preocupação do social e do econômico,
diante da realidade desigual do planeta, visa a satisfazer as necessidades de
dois bilhões de pessoas desnutridas que continuam a se reproduzir em velocidade
maior do que a da produção e distribuição de alimentos.
A miséria e a riqueza se reproduzem ao mesmo tempo.
Ambas se confinam no mesmo espaço e no mesmo tempo. Uma ínfima parte da riqueza
chega até a miséria. Isto é, o econômico e o social se respeitam, se controlam,
mantêm distância. Há frequentemente contradição entre as decisões dos gestores econômicos
e sociais. Antes a feitura do bolo e depois sua repartição? Ou faz-se a repartição
da renda para fabricar o bolo? O bolo que os dois bilhões de famintos querem é o mesmo
que requerem os ultrassaciados? O ambiental arca com o peso dos dois pilares. É
possível produzir alimentos e bens sobre um bioma em alta velocidade usando os
artifícios tecnológicos disponíveis. Mas o tempo e a velocidade da renovação do
bioma são inversamente proporcionais aos do econômico e do social. Essa
assimetria de tempo e velocidade é um forte obstáculo à desconstrução da desigualdade.
O conceito de sustentabilidade esbarra no pilar ambiental. O pilar ambiental
não tem o mesmo tamanho, a mesma medida e a mesma robustez do econômico e a
mesma flexibilidade do social. O governo pode tomar medidas de distribuição de
renda, isto é, repartir o orçamento entre os que não têm salário suficiente para
mover o comércio. É medida aceitável do ponto de vista estritamente social. Mas
a resposta sobre o ambiente pode ser catastrófica.
O ponto de equilíbrio está no tamanho da população e
na velocidade de sua reprodução. Dois bilhões de famintos podem gerar milhões
de pessoas que forçam os três pilares e pesam mais sobre o ambiental do que
sobre o econômico e o social. Não é apenas sobre a produção de alimentos. É
espaço físico, moradia, transporte, comunicação, ar puro, água limpa, escolas,
hospitais. A velocidade da agricultura para a produção de alimentos não é a
mesma da bolsa de valores onde se geram bilhões de dólares para a economia financeira,
abrindo a fossa entre ricos e pobres. Quanto dessa massa de dinheiro é
canalizado para a renovação dos biomas e preservação da biota?
Quem sustenta quem? A renda sustenta o consumo que
sustenta a indústria e o comércio que sustam as bolsas que sustentam os bancos.
Trata-se, pela lógica, de sustentabilidade do sistema econômico vigente com a
retórica adjetivável do “sustentável”.
A renovação e a reprodução evolutiva dos biomas no
conjunto da natureza global garantem a biodiversidade e a produção de alimentos associadas ao controle do crescimento da
população mundial.
A prática racional e adequada de utilização das riquezas naturais e a observação
dos tempos necessários asseguram a renovação e a reprodução vegetal dos biomas,
a consequente fertilidade do solo e a preservação da biota existente e associada
a eles.
As desigualdades têm razões que a razão pretende
desconhecer. Quem, objetiva e sinceramente, quer a igualdade econômica, social, ambiental e cultural?
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