segunda-feira, 13 de agosto de 2012

TRÊS PILARES DA SUSTENTABILIDADE


 

Especialistas, teóricos ambientalistas, economicistas, equilibristas ambientais acomodaram o conceito de sustentabilidade sobre três pilares: social, econômico e ambiental. Outros acrescentam a coluna “cultural” pondo o edifício conceitual sobre quatro pés. O cultural é vasto e engloba tudo o que os outros três escondem: comportamentos, educação, planejamento, gestão. Com esta maquete parece resolvido o impasse da sustentabilidade.
A referência principal desse esquema está posta sobre as desigualdades globais, não só nacionais ou regionais. A proposta é produzir comida e bens para alimentar e dar conforto a toda a população mundial. O social e o econômico dependem do pilar ambiental, isto é, dos biomas espalhados pelo planeta que propiciam a fertilidade da terra para cultivá-la.
Parece que a preocupação do social e do econômico, diante da realidade desigual do planeta, visa a satisfazer as necessidades de dois bilhões de pessoas desnutridas que continuam a se reproduzir em velocidade maior do que a da produção e distribuição de alimentos.
A miséria e a riqueza se reproduzem ao mesmo tempo. Ambas se confinam no mesmo espaço e no mesmo tempo. Uma ínfima parte da riqueza chega até a miséria. Isto é, o econômico e o social se respeitam, se controlam, mantêm distância. Há frequentemente contradição entre as decisões dos gestores econômicos e sociais. Antes a feitura do bolo e depois sua repartição? Ou faz-se a repartição da renda para fabricar o bolo? O bolo que os dois bilhões de famintos querem é o mesmo que requerem os ultrassaciados? O ambiental arca com o peso dos dois pilares. É possível produzir alimentos e bens sobre um bioma em alta velocidade usando os artifícios tecnológicos disponíveis. Mas o tempo e a velocidade da renovação do bioma são inversamente proporcionais aos do econômico e do social. Essa assimetria de tempo e velocidade é um forte obstáculo à desconstrução da desigualdade. O conceito de sustentabilidade esbarra no pilar ambiental. O pilar ambiental não tem o mesmo tamanho, a mesma medida e a mesma robustez do econômico e a mesma flexibilidade do social. O governo pode tomar medidas de distribuição de renda, isto é, repartir o orçamento entre os que não têm salário suficiente para mover o comércio. É medida aceitável do ponto de vista estritamente social. Mas a resposta sobre o ambiente pode ser catastrófica.
O ponto de equilíbrio está no tamanho da população e na velocidade de sua reprodução. Dois bilhões de famintos podem gerar milhões de pessoas que forçam os três pilares e pesam mais sobre o ambiental do que sobre o econômico e o social. Não é apenas sobre a produção de alimentos. É espaço físico, moradia, transporte, comunicação, ar puro, água limpa, escolas, hospitais. A velocidade da agricultura para a produção de alimentos não é a mesma da bolsa de valores onde se geram bilhões de dólares para a economia financeira, abrindo a fossa entre ricos e pobres. Quanto dessa massa de dinheiro é canalizado para a renovação dos biomas e preservação da biota?
Quem sustenta quem? A renda sustenta o consumo que sustenta a indústria e o comércio que sustam as bolsas que sustentam os bancos. Trata-se, pela lógica, de sustentabilidade do sistema econômico vigente com a retórica adjetivável do “sustentável”.
A renovação e a reprodução evolutiva dos biomas no conjunto da natureza global garantem a biodiversidade e a produção de alimentos associadas ao controle do crescimento da população mundial. A prática racional e adequada de utilização das riquezas naturais e a observação dos tempos necessários asseguram a renovação e a reprodução vegetal dos biomas, a consequente fertilidade do solo e a preservação da biota existente e associada a eles.
As desigualdades têm razões que a razão pretende desconhecer. Quem, objetiva e sinceramente, quer a igualdade econômica, social, ambiental e cultural?

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