quinta-feira, 2 de agosto de 2012


SUPREMO TRIBUNAL DA MENTIRA

Os olhos de parte dos cidadãos brasileiros estão voltados para o Supremo Tribunal Federal. A verdade e só a verdade, dizem, está na mira dos togados. Eles condenarão ou não os acusados de crime contra o erário público. Os acusados e seus advogados provarão serem inocentes. Por que, então, esse teatro todo diante de 38 inocentes? Um dos fatos, a menos que tenham sido um fenômeno explícito de ilusão ótica quando filmados, é que mãos entregaram a outras mãos dinheiro vivo. E dinheiro foi encontrado em cueca, em meias, em bolsas, em pastas 007. De quem eram as mãos, as cuecas, as meias, as bolsas e as pastas? Eis a questão que atormentará o juízo dos ministros do supremo tribunal da mentira.
As relações sociais, econômicas e políticas da sociedade brasileira são orientadas pelas cláusulas gerais do código nacional da mentira. Os meios de comunicação repetem, de hora em hora, parte dos fatos, sejam de sequestros, assassinatos, acidentes de trânsito, roubos, peculatos, assaltos a bancos, mortes de crianças em hospitais, secas no Nordeste, inundações na China ou no Amazonas. Os números absolutos são seguidos de percentuais imprescindíveis à compreensão do cidadão comum. Sem o percentual, obsessão do jornalista repórter, seria incompreensível a notícia. O 0,2% ou o 23,79% dão credibilidade aos fatos. É a verdade estatística que se modifica de hora em hora. E de tanto serem repetidas por distintos organismos públicos e privados, por figuras do governo ou de grandes empresas criam um lastro de autoridade sobrenatural a que se dá crédito irrestrito. Haverá quem diga “a grande verdade” é a seguinte, sem se perguntar se existem pequenas verdades.
Ouço, diariamente, entrevistas e pronunciamentos das mais graduadas autoridades da república, incluindo assessores e presidentes, dos ministros de Estado, de empresários de renome. Leio artigos de jornais e revistas, projetos e programas de âmbito nacional e, comparando-os com a efetiva realização, descobri uma gama razoável de indicadores detectores de mentiras oficiais. Esses indicadores poderiam auxiliar os togados do STF a detectar as mentiras formuladas pelos acusados inocentes e seus defensores.
São indicadores de uso comum de qualquer cidadão, seja doutor ou analfabeto. Os principais são: nada, nunca, nenhum, sempre, todos, tudo, ninguém. Em geral, eles precedem a mentira ou a trama da mentira. Alguns exemplos:
Este programa de governo não tem NADA a ver com as próximas eleições.
As nossas ações de governo visam SEMPRE a população pobre e a inclusão social, mesmo em se tratando de isenção de impostos.
NUNCA antes neste ministério, neste estado, neste país.
Neste projeto, NINGUÉM tem privilégios.
A lei é para TODOS. Ou: TODOS são iguais perante a lei.
Não há NENHUM interesse em prejudicar os adversários e NENHUMA relação com os fatos por eles mencionados.
Em razão dos acontecimentos, foram tomadas TODAS as medidas cabíveis.
TUDO será apurado com o rigor da lei e TODOS os envolvidos serão punidos.
Quanto mais vezes esses termos forem usados por advogados de acusação ou de defesa, mais próximos estaremos da mentira. Mas, como o Supremo Tribunal da Mentira não se reúne para condená-la, será possível provar a TOTAL inexistência do mensalão e que NENHUMA evidência de crime será constatada dos autos do processo.


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