segunda-feira, 27 de agosto de 2012

PLANEJAMENTO URBANO



(Foto: qualquer semelhança não é coincidência).

Está na pauta de decisões administrativas do GDF a liberação da área denominada Quadra 901 Norte para investimentos imobiliários. Os efeitos propalados provenientes dessa decisão se referem à oferta de habitações hoteleiras para atender a demanda dos participantes de eventos ocasionais futuros: jogos de campeonatos de futebol. Dependurados no frágil gancho da escassez de hotéis no DF, que os arquitetos defensores do Projeto Lúcio Costa contestam, estão outros motivos reais. Os lucros provenientes desses investimentos, a geração de empregos temporários e fixos, aumento da circulação da renda no consumo de serviços e, ponto ômega, o crescimento da riqueza local imobilizada refletida no PIB do DF.
Que tem a ver essa decisão que envolve investidores da construção civil, deputados distritais, secretários de governos e o próprio governador do DF com planejamento urbano? Uma cidade se expande pela força de dois vetores básicos: população e serviços para suas necessidades vitais. São esses fundamentos que, teoricamente, orientam o planejamento urbano. Uma cidade é essencialmente um espaço de circulação de pessoas, de convivência humana, de interdependência de todas as formas de vida sustentadas pela Natureza, garantidos por serviços múltiplos que satisfaçam a população envolta numa espécie de placenta cultural que a identifica ao longo do tempo.
Comunidades e países, no curso da história, se expandiram e desenvolveram científica, técnica, tecnológica e culturalmente sem a presença arquitetônica de uma Esplanada de Ministérios. Esse modelo arquitetônico que Brasília ostenta, pela sua inovação moderna e singular, mereceu o prêmio mundial de Patrimônio Cultural da Humanidade.
Supostamente a maioria dos serviços que atenderiam as necessidades da população está nos prédios alinhados ao longo da Esplanada. O modelo arquitetônico do Plano Piloto deu nova vida à arquitetura e à concepção teórica dos espaços. Na prática, esse modelo de concentração espacial de serviços à população melhorou a qualidade da educação, da saúde, da segurança, das condições ambientais, da convivência cultural, da aceitação da igualdade civil e social dos brasileiros?
Para restringir estes comentários à área da Quadra 901 Norte, autorizada a se transformar em palco de hotéis e serviços correlatos, vale a questão: para qual população se destinam os prédios e os serviços e sua funcionalidade no tempo?
A informação oficial veiculada se refere à população flutuante, pontual e restrita que visitará Brasília durante 20 dias, em 2013 e 2014, quando se realizam jogos de um campeonato de futebol. À parte a agressão ao tombamento e às escalas previstas e sancionadas no projeto arquitetônico do Plano Piloto, a ocupação da área 901 Norte responde fundamentalmente a uma proposta imobiliária de investidores da construção civil.
A concepção de planejamento urbano está irremediavelmente excluída. Trata-se de um implante de prédios na arcada urbana para instalar serviços múltiplos sorteados entre os mais comuns para uma população desconhecida, flutuante, temporária e específica durante 20 dias.
Segundo informações colhidas junto a um tradicional hotel de 15 andares, no Setor Hoteleiro Sul, com 424 quartos, requer-se um corpo diário de 90 funcionários para atender, em média, 600 hóspedes. Os oito hotéis previstos para a 901 N concentrarão, nesse serviço, mais de cinco mil e quinhentas pessoas, número que será ampliado por outras construções anexas e seus respectivos habitantes e trabalhadores.
O fluxo de circulação dessa população incidirá sobre as vias de trânsito, estacionamentos, poluição aérea e sonora e, o mais grave, a eliminação definitiva da vegetação original dessa área, empobrecendo o ambiente bucólico. Essa desnecessária e acintosa decisão administrativa se impõe à população em nome da ganância, da irresponsabilidade administrativa e da ilusão estatística do percentual do PIB.
Brasília é refém de decisões imobiliárias tecnocráticas do consórcio construtoras e governo, sem critérios de planejamento urbano, cujo princípio básico é proporcionar serviços adequados e conforto à população da cidade.

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