sexta-feira, 24 de agosto de 2012

CICLOVIAS PARA QUEM?



Ciclovias é bom. Adaptam-se à geomorfologia de Brasília. A cidade é plana. A bicicleta é ambientalmente correta. É alternativa para o uso do automóvel. Desafoga o tráfego. Os países nórdicos têm ciclovias há mais de cinquenta anos. A China, o Japão e a Índia têm milhares, se não milhões de trabalhadores que usam a bicicleta para ir ao trabalho, ao cinema, aos supermercados, a passeios. Os reis da Suécia e Dinamarca vão a seus compromissos reais de bicicleta. A França inovou. Pôs milhares de bicicletas à disposição dos usuários mediante taxa módica de aluguel. Eis alguns dos estereótipos sobre a justificativa de ciclovias em Brasília.
Missões oficiais de observação e estudo compostas  de governadores, deputados e empresários não poderiam se lançar à aventura de ciclovias em Brasília sem constatar como funciona essa iniciativa em Paris. Não é para copiar, mas para adaptar às nossas condições e à realidade da metrópole brasiliense. Os quatro últimos governadores fizeram da ciclovia uma promessa de campanha. De tímidos vinte a espetaculares 600 quilômetros de ciclovias, os números foram anunciados em escala crescente.
Neste momento, em frente a minha janela, às margens da L-2 Sul, escavadeiras removem o piso das calçadas de pedestres para transformá-las em ciclovias. “Vai virar calçada com outro nome. Pouca gente vai usar”, disse-me o responsável de plantão.
Para quem as ciclovias de Brasília? As ciclovias ligam o que com quê? Levam de onde para onde? Quais são os pontos previstos de chegada? Correspondem à demanda declarada da população? Dá para chegar ao Palácio dos Despachos saindo do Palácio da Alvorada ou do Jaburu? Dá para chegar à UnB e outras universidades? Aos shoppings? Aos hospitais? Aos colégios? Aos ministérios? Aos cinemas e teatros? Aos bancos? Os estacionamentos para esses milhares de bicicletas já estão projetados?
– Você não vai querer que a presidente Rousseff vá de bicicleta à reunião com trinta ministros ao Palácio dos Despachos. Ou senadores e deputados, ao Congresso Nacional. Ou ministros, ao Supremo Tribuna Federal e a outros tribunais. Ou que médicos e enfermeiros saiam do Lago Sul ou Norte, de São Sebastião ou Santa Maria para socorrer pacientes nos hospitais. Ou que milhares de funcionários e empregados do comércio abandonem seus carros para pedalar, faça sol ou caia chuva.
Para os que moram na parte leste da cidade e têm interesses a satisfazer em centros literários, musicais, religiosos ou no Parque da Cidade que se localizam no lado oeste de Brasília, por onde passa a ciclovia? Brasília é vista sempre de Sul a Norte e vice-versa. O trânsito Leste/Oeste é um enigma.
Então, para quem são os 600 quilômetros de ciclovias que estão tomando o espaço de calçadas de pedestres? Os visitantes oficiais perceberam em Paris (esta é a dúvida!), ou Helsinque, ou Estocolmo que calçada é calçada para pedestre e ciclovia é para bicicleta?
Minha suspeita, política e culturalmente correta, é que as ciclovias se reduzirão a deliciosos passeios ao redor das quadras, com risco de perder a vida na travessia de ruas ocupadas por automóveis. Na melhor das hipóteses, teremos enfim calçadas sólidas e melhoradas para os intrépidos e teimosos pedestres que preferem saborear a quietude das árvores e as surpresas 

Um comentário:

zecezar disse...

Tem um amigo aqui no Cruzeiro, o Wilson, que propôs uma Ciclovia do Trabalhador que liga o parque shopping ao SIA, para que os trabalhadores que andam de metrô possam chegar ao SIA com suas magrelas. A ligação do Cruzeiro com o Centro de Brasília, em paralelo ao Eixo Monumental, vai facilitar a vida de estudantes e trabalhadores. Digo isso porque durante cinco anos frequentei a UnB, de bicicleta diariamente.