quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O ASSESSÓRIO SEM O ESSENCIAL



Os princípios da convivência entre as pessoas e do exercício da democracia participativa encontram rotineiros obstáculos para serem concretizados na prática política e social dos cidadãos.
Os que são guindados ao poder pelo voto ou pela confiança dos eleitos atribuem-se o direito e a obrigação de propor programas, projetos, mudanças, decretos e ordens de serviço a funcionários e à população.
O que vinha sendo feito recebe nova marca, nova orientação, nova nomenclatura, nova maquilagem, novas variações sobre o mesmo tema. Os novos administradores não contestam a essência da educação ou da saúde, por exemplo. Apresentam, investidos de autoridade, nova forma de mantê-los em funcionamento.
Os dois grupos que perseguem o poder, como as mariposas, rodeiam a lâmpada. O grupo de oposição e o que defende a nova situação parece não quererem distinguir entre o anúncio, o corpo e a execução de um programa. Os que elaboraram o programa sabem que a oposição não sabe distinguir. A essência do programa está em anunciá-lo. Seus efeitos serão, antecipadamente, acomodados em estatísticas iluminadas por projeções convincentes. “Estão previstas obras para o setor e os recursos já foram orçados para financiar os projetos que serão aprovados”.
No rosto da educação, as maquilagens feitas nos últimos anos não esconderam as rugas que o tempo deixou nas várias gerações que passaram pelas escolas, antes ditas colégios. A redefinição oferecida por ilustres pedagogos e burocratas, especialistas em decoração da expressão linguística, ameaçou tirar a educação brasileira do marasmo histórico, melhorando o vocabulário sem lhe alterar a essência. De “instrução pública” a “educação pública, de primário a primeiro grau, deste para ensino fundamental, de tecnólogo para curso superior de tecnologia, de Artigo 99 para Supletivo, de alfabetização para letramento, essas modificações na forma sem alterar a essência, isto é, o projeto educativo nacional, não fizeram que o Brasil avançasse mais do que         a 84ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano (entre 187 países) ou à 57ª no exame Pisa (entre 67 países).
O que dizer de Ministros de Estado que lamentam o stress hídrico em vez de referir-se claramente à falta de água limpa ou que troquem o impacto negativo das queimadas anuais, antes ditas focos de incêndio devastadores, por “focos de calor”?
São esses estereótipos generalizados e eufemismos saltitantes que gradualmente e alarmantemente inibem a capacidade de pensar dos cidadãos, venham eles da escola primária, do primeiro grau ou do ensino fundamental da nova educação pública.

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