Qualquer tipo de educação, seja pontual ou continuado,
restringe a liberdade pessoal e coletiva. A educação é ministrada, induzida,
inculcada na mente e no coração da pessoa e põe sobre a identidade original uma
camada de estereótipos, de regras, de leis particulares ou constitucionais.
Torna-se obrigatória. Toma a forma de receitas para moldar a pessoa, adaptá-la
a um modelo arquitetônico indefinido a fim de mais facilmente dominá-la.
Educa-se para obter dois efeitos visíveis e contraditórios: cooperar e competir,
construir e destruir, pacificar e guerrear.
Subliminarmente, educar é estabelecer as condições
ideais de esquizofrenia ao balançar o educando entre a liberdade social
condicionada e a promessa de segurança dos movimentos permitidos. Nos três
ambitos em que a educação é inculcada, paralisam-se energias cerebrais e
desvirtua-se a natural expressão da dúvida, da curiosidade, da espontaneidade
diante da beleza e da sedução do universo. O objetivo não declarado da educação
nos três ambitos é desestimular a capacidade de pensar e querer fora dos
parâmetros estabelecidos pelos costumes, pela moral e pela ética em uso.
Na família, primeiro cenário da educação, ganha-se o
DNA e herda-se o idioma próprio da clã restrito, do grupo de vizinhança, da
tribo moldada. Na escola, conhecem-se direitos legais que subjugam os
individuais, socializam-se as dissonâncias, ressaltam-se as diferenças,
consolidam-se os preconceitos e, sob algumas promessas de prêmios e ameaças,
enumeram-se os deveres coletivos para com a pátria. O conhecimento metódico e
mecânico minimiza as emoções. Nas igrejas, educa-se a pessoa para sobrepor a
tudo e a todos um poder sobrenatural, oculto, indevassável. A pessoa aprende a
ser nada e impotente. Só alcança benefícios ou recebe castigos gratuitos se o
humor de um Ser superior assim dispuser.
Constrangido por essa educação tridimensional a pessoa
renuncia inconscientemente à liberdade essencial do espírito para acatar os
princípios da segurança social, fictícia, a ser mantida por meio de armas mortais. A educação operada em três dimensões é obrigação de
lei e obsessão generalizada e universalizada. O núcleo vital da educação foi
afetado pelo mesmo vírus que destrói sorrateiramente as células da liberdade.
Produz metástase emocional, aliena a consciência e substitui a felicidade vital
em prazer mecânico de manipular aparelhos. Os lares, as escolas, as igrejas
estão mobiliadas com aparatos eletrônicos os mais variados que dão eficiência e
rapidez à transmissão de conhecimentos e certezas. Conhecimentos e certezas que
serão úteis para operar outros mecanismos, na progressão da chamada educação
permanente, rumo a uma profissão no “mercado de trabalho”, ou para
certificar-se de que o céu é o limite a ser transposto.
A felicidade vital do espírito inteligente é substituída
pela felicidade conquistada com a operação de aparelhos relativamente obedientes.
Eles trocam a presença das pessoas e por meio deles tornam impessoais e distantes
os relacionamentos. Estamos todos convidados, convocados e obrigados à comunicação
de conhecimentos e comportamentos sob a forma de educação mecânica. A família, as
escolas, as igrejas, auxiliadas pela mídia insinuosa e por todos os truques tecnológicos
da Internet nos fazem assumir inconscientemente o papel de educadores. Educar é
preciso. Todos a educar a todos na crescente multiplicidade de “demandas” a ponto
de não fazermos mais nada, a qualquer momento, em qualquer situação a não ser educar.
A educação em três ou cinco dimensões transformou-se no mais eficiente meio de alienação
da consciência.
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