quinta-feira, 17 de novembro de 2011

CEGA, SURDA E IGNORANTE

Não consegui, no Google, números estatísticos sobre cegueira, surdez e ignorância de brasileiras e brasileiros, mais especificamente, da espécie brasiliense. Tenho me guiado, ultimamente, pelo óbvio evidente e ululante. Posso afirmar que o número é magno. Há milhares, se não milhões, de brasileiras e brasileiros cegos, surdos e ignorantes. Cegos ou analfabetos. Surdos ou mentalmente incapazes. Ignorantes ou espertos atentos às vantagens imediatas.
Para não cansar um possível leitor com estas considerações, restrinjo-me à atitude da espécie brasiliense (homo cerratensis) com relação ao lixo depositado nos contêineres espalhados pelas Superquadras do Plano Piloto, bairros circunvizinhos ou simplesmente jogado à beira das rodovias.
Estou em frente aos dois contêineres do Bloco T da SQS 406. Um se destina ao lixo orgânico para ser transformado em adubo. Mas o que vejo, ali, é mistura de roupa, plásticos, restos de comida, cacos de vidro, e objetos invisíveis dentro de sacos pretos ou azuis. O outro é para o denominado lixo seco. Ali, o absurdo é impressionante. Empilhados, estão isopores que envolviam eletrodomésticos, caixas de papelão, garrafas de vidro, garrafas plásticas, latas, jornais e revistas, partes de mobília, cacos de cerâmica, baldes rotos e, para completar, restos de comida.
Entre os pouco mais de 70 moradores do Bloco T há bancários, oficiais de justiça, engenheiros, professores. Quase todos os carros que servem aos moradores são novíssimos, asiáticos ou franceses. O descaso, a indiferença, a displicência da atitude dos moradores diante dos efeitos do lixo sobre o belo e frágil bioma cerrado, misturado nos contêineres e ao longo das rodovias, só podem ter um atenuante: ausência total de informação, de leis, de avisos e de consciência ambiental. A desculpa, com certeza, recai sobre diaristas, faxineiras e empregadas domésticas. Quem as orienta? A espécie brasiliense atingiu a marca de dois milhões e seiscentos mil habitantes com direito a produzir o mesmo volume em quilos de lixo por dia.
Ao ver a confusão e a mistura de lixo nos contêineres e ao longo das rodovias, obrigo-me a concluir que a espécie brasiliense, em número alarmante, está atacada de cegueira, surdez e ignorância. Incluo, nesse número, os administradores de uma dezena de órgãos públicos criados para orientar, fiscalizar, controlar, impedir e sancionar os criminosos ambientais.
A alternativa é, com extrema urgência, curar a cegueira, a surdez e a ignorância da espécie brasiliense.

Nenhum comentário: