Naquele mês de outubro de 1973, salvei da foice de um peão um arbusto de metro de altura com feições ternas que me impulsionaram a deixá-lo vivo. Revelou-se, depois das chuvas, um angico (Piptadenia, Mimosoideae) e alcançou a altura de 25 metros. Aos 30 anos, atraiu as atenções de um raio inclemente. Rachou-o ao meio e o matou. Naqueles dias em que tomei contato com as árvores do Sítio, não existiam angicos adultos. Todos haviam virado carvão, inclusive as aroeiras e as sucupiras. O angico salvo cresceu, deu flores e jogou semente no ar. Teve muitos filhos e netos.
Acompanhei o nascimento, o crescimento, a adolescência e os dias adultos de muitos angicos. Admiro alguns deles com 20 e 25 anos. Um deles, com 26 anos, foi arrancado por um vento furioso que chegou do Sul sem aviso prévio. Caiu sobre os três fios da rede de alta tensão e os rompeu. (A turma de consertos da Companhia Energética de Brasília – CEB – tardou dois dias para atender a emergência e seis para restabelecer a energia).
Outros angicos, com mais de 20 anos, de repente, começam a secar e morrem. Fico triste ao vê-los mortos, secos, eretos, dignos, decentes. Os galhos secos parecem braços erguidos espetando o ar. Há predadores nas raízes das árvores. Eles vivem da morte delas. E, depois de mortas, vem o pica-pau João Velho cavar no tronco seco e duro seu ninho em madeira nobre.
Eu morrerei. As árvores também morrem. Ficam meus descendentes e os das árvores para que a vida continue. Morrer faz parte da vida não importa o tempo nem o tamanho de quem viveu.
Um comentário:
muito legal isso.
tb milito vorazmente pelas árvores. sou, até, um disseminador de sementes aplicado!
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