sexta-feira, 15 de julho de 2011

ALÉM DE MIM

Conhecimento pelos livros



 (Notas preliminares de um livro que preparo sobre o desconhecido, o impalpável, o indecifrável também dito Ser Supremo. O título é provisório.) 

Para Mina, minha ex-professora de italiano, Deus é o conhecimento, a descoberta do que pode ser apreendido pela inteligência. O conhecimento é infinito diante da reduzida capacidade individual do intelecto. É intocável, mesmo expresso pelo verbo. É indestrutível e, portanto, eterno. Tudo o que se pode conhecer não elimina nem diminui o potencial disponível a ser conquistado. O conhecimento não se restringe às leis físicas que regem os astros, à combinação e arranjos dos seres, das coisas. O conhecimento mais complexo é o que penetra a alma para desvendá-la e provoca a liberdade de pensar e querer. É chantageado pelos sentimentos de amor e medo, iludido pela certeza e torturado pelo porquê da morte. Tudo isto, para Mina, é Deus. Deus espalhado em átomos a serem juntados, unidos, organizados diariamente para ordenar e suportar as traquinices do destino. Sua angústia existencial está resolvida. Basta-lhe o conhecimento.
O que fazer com o conhecimento? Saber usá-lo. Aqui, o conhecimento entra em pânico. Somos surpreendidos por um Deus de guerras, de fome, de amor e ódio, de desastres que o mero conhecimento não é capaz de evitar. Saber. Sabedoria. É um estágio que se alcança com escaladas permanentes, com espírito de alpinista para alcançar o topo. Quem nos comanda não é o conhecimento apenas e, sim, o grau de sabedoria para agir na complexidade do universo e do pluriverso.
Somos regidos consciente ou inconscientemente por leis físicas, pois giramos a bordo de um planeta do sistema solar cercado de galáxias. Essas leis existem independentemente de nós, fora de nós e acima de nossas forças. Elas são a base de todas as leis, inclusive das leis morais da convivência humana. Elas se disseminam e penetram todos os seres e produzem o princípio da interdependência. Dependemos uns dos outros nas mínimas necessidades da existência. Do Sol que nos acalenta. Do feijão ou da batata que nos alimenta. Do sentimento de amor que nos une ao amigo ou ao cão. Da liberdade que nos faz dignos.
Onde está isto que chamamos Deus? Viver é isto: ter liberdade de pensar e querer a caminho da sabedoria. Ter o benefício da dúvida, quando não a certeza da dúvida.

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