domingo, 17 de julho de 2011

AS ELITES

O que é elite? Ou as elites, como a elas se referia o ex-metalúrgico-presidente. Pode-se defini-las pela fisiologia. É aquele grupo endinheirado que faz compras em Paris, na Rue de Rivoli, têm mansões nas Ilhas Seychelles, contas bancárias nas Ilhas Caimán, sustentam creches nas favelas, asilos nas periferias, defendem meninos de rua, organizam chás de aniversario de cadelinhas e ceias de Natal para os pobres. Viajam em seus jatinhos privados, festejam a passagem do ano em seus iates de luxo. Convidam presidentes e autoridades oficiais para solenidades especiais, aniversários e velórios. São invisíveis, embora os nomes circulem de boca em boca. Ninguém os vê ocupando postos em primeiro escalão do governo, nem pedindo audiência a presidentes da república ou do senado ou da câmara de deputados. Ninguém já viu um representante da elite ser preso e algemado ou encarcerado no Carandiru. As elites sustentam as Giseles da moda e as grifes que decoram todos os cm2 do corpo humano.
As elites estão onde sempre estiveram mesmo que se arruínem em débitos bancários. São débitos elitizados e causam admiração pública. Suas entrevistas que narram as vicissitudes da vida os beatificam como santos de nossa sociedade injusta e ingrata.
Não se confunda elite com os subservientes que lhe servem de garçons. Vestem ternos Armani, movem-se nos mesmos salões com bandejas de croquetes e taças de vinho Chateau Neuf du Pape. Sorriem às damas que os olham cobiçosas, reverenciam os príncipes da noite ao oferecer a lula empanada ou a lagosta ao molho de vinho branco. Agradecem sensibilizados as propinas e as gorjetas dadas generosamente pela deferência superior dos anfitriões. Aceitam levar para casa os restos da festa e as lembranças finas que já caíram em desuso nas mansões das elites.
Quem são esses garçons de luxo que lambem os pratos das elites acusadas por eles de não quererem o fim da violência, da pobreza, da fome, das injustiças e das desigualdades? Às vezes, quando cai um helicóptero no mar, revelam-se alguns nomes desses garçons. Esses também podem ser definidos pela fisiologia. Ocupam o Palácio da Presidência, as salas e os plenários do Congresso Nacional, os gabinetes dos ministérios na Esplanada, em Brasília, os palácios de governos estaduais. São, em geral, sócios do mesmo sindicato de arrivistas que perseguem as lantejoulas do poder.
É notícia diária que garçons que servem as elites são pegos com a boca na botija roubando dinheiro público para comprar ingresso no clube das elites. Mas não alcançam mais que seguir sua função de garçons vestindo ternos Armani nas festas das elites.
No ataque às elites, pelo tom e pelas insinuações, infere-se que as farpas se dirigem às elites intelectuais. Aquelas que tiveram berço no epitálamo do poder econômico e político e aqueles que se encastelaram nas universidades e academias. Ambas vacinaram-se contra as bactérias da ignorância do chamado saber popular. É possível que ambas as elites defendam e alimentem com teorias, ideologias ou interesses superiores o sindicato dos garçons de luxo para que sirvam com eficiência os anfitriões invisíveis.
Os garçons de luxo apoderados do sindicato do poder distinguem as categorias de elites e sabem a qual delas premiar. Por isso, quando  o sindicato dos garçons chega às instâncias superiores do governo e ataca as elites é conveniente ler nas entrelinhas dos discursos proferidos em praça pública a qual delas quer atingir. Qual das elites está sendo fustigada? Não certamente aquelas às quais servem de garçons de luxo.


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