quarta-feira, 20 de julho de 2011

AS ÁRVORES TAMBÉM MORREM

Quando adquiri uma pequena área de cerrado, no Distrito Federal, hoje Sítio das Neves, convertido em paraíso, percebi que grandes árvores centenárias haviam sido abatidas. O senhor Elizeu a havia transformado em carvão. Era sua fonte de renda para sustentar o filho com síndrome de Down.
Naquele mês de outubro de 1973, salvei da foice de um peão um arbusto de metro de altura com feições ternas que me impulsionaram a deixá-lo vivo. Revelou-se, depois das chuvas, um angico (Piptadenia, Mimosoideae) e alcançou a altura de 25 metros. Aos 30 anos, atraiu as atenções de um raio inclemente. Rachou-o ao meio e o matou. Naqueles dias em que tomei contato com as árvores do Sítio, não existiam angicos adultos. Todos haviam virado carvão, inclusive as aroeiras e as sucupiras. O angico salvo cresceu, deu flores e jogou semente no ar. Teve muitos filhos e netos.
Acompanhei o nascimento, o crescimento, a adolescência e os dias adultos de muitos angicos. Admiro alguns deles com 20 e 25 anos. Um deles, com 26 anos, foi arrancado por um vento furioso que chegou do Sul sem aviso prévio. Caiu sobre os três fios da rede de alta tensão e os rompeu. (A turma de consertos da Companhia Energética de Brasília – CEB – tardou dois dias para atender a emergência e seis para restabelecer a energia).
Outros angicos, com mais de 20 anos, de repente, começam a secar e morrem. Fico triste ao vê-los mortos, secos, eretos, dignos, decentes. Os galhos secos parecem braços erguidos espetando o ar. Há predadores nas raízes das árvores. Eles vivem da morte delas. E, depois de mortas, vem o pica-pau João Velho cavar no tronco seco e duro seu ninho em madeira nobre.
Eu morrerei. As árvores também morrem. Ficam meus descendentes e os das árvores para que a vida continue. Morrer faz parte da vida não importa o tempo nem o tamanho de quem viveu.

Um comentário:

Giovani Iemini disse...

muito legal isso.
tb milito vorazmente pelas árvores. sou, até, um disseminador de sementes aplicado!