segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

SUPERPOPULAÇÃO E SUPERPOVOAMENTO


A superpopulação se constitui de quantidade de pessoas aglomeradas num espaço físico acima da capacidade cabível em razão do ecossistema e do funcionamento normal de todos os serviços necessários à sobrevivência da população. Essa aglomeração deve garantir a preservação das condições de interdependência das espécies, fauna e flora, que constituem o conjunto ambiental mais amplo.
A equação é simples. Quanto maior a população, menor o espaço individualmente ocupado. Na ocupação do espaço não há que se computar apenas o número absoluto de pessoas comparado com a dimensão espacial dita vazia ou não ocupada. Ao redor da população constroem-se casas em linha horizontal ou adensa-se em edifícios verticais. Abrem-se ruas, avenidas, túneis, levantam-se viadutos para circulação de pessoas e de equipamentos de serviços. Os automóveis, a cada dia, impõem novos e mais amplos espaços para o tráfego e estacionamentos. Hospitais, escolas, áreas de lazer, parques, edifícios públicos para administração de serviços à população e dezenas de outros equipamentos sociais e da vida econômica requerem espaço.
A subsistência da população necessita de espaços para a agricultura e a criação de animais. A população bovina supera em número, a humana. Uma família, na maioria de nossas cidades, se contenta com 30 a 40 metros quadrados. Um bovino, via de regra, ocupa 10.000 metros quadrados. Os rebanhos suínos, avícolas e outras espécies menores são, em geral, esquecidos e também representam milhões de unidades. Os pouquíssimos lembrados pertencem à fauna nativa do que resta de nossas florestas e são tratados como intrusos ou meros figurantes do universo.
Todos os anos, proclama-se com orgulho a supersafra, vinda de milhões de hectares, para alimentar desigualmente a superpopulação. A desigualdade, em seus vários aspectos, é característica de uma superpopulação, no âmbito regional, nacional ou mundial.
O ponto mais importante ao analisar o crescimento da população não é o índice estatístico de sua reprodução. Há que se confrontar simultaneamente o aumento da população e a diminuição do espaço disponível na integralidade de seus elementos.
Há três aspectos essenciais a se considerar que permitem constatar a existência do superpovoamento de espaços, consequência da pressão da superpopulação. Esta pode estar empilhada num espaço que se torna cada vez mais incômodo e agressivo para as pessoas.
O primeiro aspecto se refere à capacidade física do espaço para suportar certa quantidade de população relacionada com todas as condições de sobrevivência e interdependência das espécies conforme se assinalou acima. Ultrapassando essa capacidade física do espaço, aparecem sinais de rejeição emitidos pela natureza através do funcionamento das leis geológicas. O esgotamento do solo é um dos alertas que, longamente desprezados, expulsa ocupantes de zonas rurais.
O segundo aspecto se relaciona diretamente com os fenômenos da natureza. Os ventos, as chuvas, os raios precisam de espaço para se expressar. Sua grandeza e imponência, ainda que previsível em parte, provocam efeitos incontroláveis. Tufões, tormentas, tempestades, tsunamis não dependem da vontade nem dos conhecimentos das pessoas para se manifestar. A população é que depende deles. Quando se antepõem obstáculos ou se alteram as condições espaciais pela ocupação desordenada e imprudente do solo, agredindo o funcionamento de leis físicas, produzindo danos ao ambiente, a natureza reage impulsionada por forças e energias incontroláveis.
O terceiro aspecto corresponde à incapacidade da própria população de se administrar por meio de organização e de planejamento preventivo dos serviços igualitariamente prestados às pessoas, respeitando a interdependência de todos os seres vivos de um conjunto ambiental.
A capacidade política instalada, no Brasil, de administrar grandes populações está a anos-luz de distância das necessidades humanas e dos requerimentos do ecossistema. As consequências dessa incapacidade política e administrativa, apesar de todos os equipamentos tecnológicos e conhecimentos acumulados, são registradas diariamente na desigualdade da educação, do atendimento à saúde, do controle da violência cidadã, do transporte público, da moradia, dos salários, do pagamento de impostos.
A superpopulação não causa apenas o superpovoamento de nossas metrópoles. Ela está consolidando a desigualdade social e provocando a reação nefasta do funcionamento das leis físicas contra a população.
A cada ação humana –mão do homem – na ânsia de dominar a natureza e desfrutar de suas riquezas corresponde uma reação dos elementos na mesma ou em superior medida. 

Nenhum comentário: