quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

COMISSÃO DA VERDADE


Aproveitei uma bela e contundente crônica de Affonso Romano de Sant’Anna sobre a instalação da Comissão da Verdade e lhe enviei o texto de minha provocação irônica “Anistia indenizatória”, já publicada neste blog.
Alguns amigos a quem submeti a leitura do texto, para minha surpresa e decepção, levaram a sério a ironia. Aconselharam-me a oficializar o pedido de indenização junto à Comissão de Anistia do Ministério da Justiça para obter o benefício. Obter vantagens, buscar privilégios, sentir-se superior ao comum dos mortais são tentações soltas na rua.
As pessoas que solicitaram e receberam a indenização pelos motivos alegados, as que eu conheço, sentem-se orgulhosas da recompensa por terem lutado contra a ditadura militar. Não sentem vergonha do privilégio recebido diante de centenas de cidadãos que se opuseram à impostura do autoritarismo militar e morreram nas sarjetas ou amargaram longas prisões.
Não foram suficientes a determinação ideológica, o heroísmo patriótico, a coragem dos enfrentamentos para lhes coroar a vitória revolucionária. Precisou haver recompensa econômica, aposentadoria gratuita e empregos perenes sustentados pela mão generosa da poupança nacional.
Quem fará parte da Comissão da Verdade? Pilatos, na hora do interrogatório sobre os fatos, há de perguntar atônito: mas, afinal, o que é a verdade? Que interessam aos beneficiados com a indenização polpuda as descobertas da verdade? De que lado estará a verdade? Ideologia é uma verdade ou interpretação de circunstâncias que orienta decisões. Consequências de uma guerra são fatos ou verdades? As torturas cometidas no período do regime militar, os sequestros praticados pelas facções em luta, os assaltos, as mortes pertencem a qual gênero de verdades?
E uma vez encontrada a verdade, se possível for, que fazer com ela? O filósofo pragmático anunciou: a verdade libertará a todos. Quem se atreve a compor a Comissão da Verdade?

Nenhum comentário: