segunda-feira, 12 de abril de 2010

PLANEJAMENTO SEM ECOLOGIA

Economia é a norma da casa. Define regras do jogo da sobrevivência na utilização das riquezas naturais. Quem dirige, quem faz o que, quando e para quem. Ecologia é o estudo da casa do qual se originam as normas. Antecede a economia. Que casa é esta. Onde está a casa, Que espaço tem. Quanta gente cabe nela. Como se movimentam seus moradores. Que espaços são comuns. Que lugares são individuais.
Olhe para sua cidade antes de se impressionar com o Rio de Janeiro, Niterói ou São Paulo. Do Rio Grande do Sul ao Amapá, ocupa-se a casa. Todos têm direito a ocupá-la. Se o rico a ocupa, por que não o pobre? A casa vai se enchendo. Chega mais gente. A sala está cheia. Os quartos repletos. A cozinha transborda. Na área de serviço instalaram-se beliches. Tomam-se as escadarias. Fazem-se puxadinhos. O lixo se amontoa em qualquer lugar. A água fica mais difícil. Ou falta ou alaga. A energia não aguenta. Um dia, a casa cai. Não foi construída para tanta gente.
Acusam-se os engenheiros de não terem previsto bases mais sólidas e colunas mais grossas. Os tubos de esgoto têm bitola muito estreita. O telhado, frágil demais para as chuvas de todos os verões. Os planejadores falharam. Chamam-se os bombeiros para acudir as periódicas emergências anunciadas. Limpam destroços. Desenterram mortos ou semivivos. Levam desabrigados a escolas e igrejas. Coletam-se donativos. A solidariedade emociona. Enterram-se os mortos deste ano. Os do ano passado já estão esquecidos.
As cidades são casas um pouco maiores. Derrubam-se árvores para construí-las. Traçam-se avenidas. Erguem-se equipamentos sociais, estádios, canchas para corrida de cavalos, autódromos, sambódromos, estacionamentos. Impermeabilizam-se as ruas com asfalto, se entopem de carros, transformam-se em rios sujos com qualquer chuva.
A população cresce e sai em busca de vida melhor, conforto, trabalho bem pago, casa boa, escola para os filhos, água encanada, energia para banho quente, geladeira e TV. Ninguém pergunta se na casa-cidade cabe tanta gente. O povo vai entrando no meio da mata, à beira da nascente ou do rio, no pântano. Sobe o morro, desloca pedras, fura o chão. Pede ruas asfaltadas ao vereador para passar o ônibus, compra energia, paga água e outros impostos. Reclama uma creche para deixar as crianças, enquanto vai atrás do leite dos meninos. Um dia a casa cai. E o culpado é quem deixou o povo entrar na casa pequena. Mas a casa é pequena mesmo. Não tem lugar para todos. E por que entraram? Porque deixaram entrar. Era muita gente. Todos têm direito de entrar. E agora perderam tudo. Morreu a família toda.
Tem gente demais em nossas casas. Não há lugar para todos. A casa vai cair. Os planejadores de cidades desenham ruas, o estilo das casas, a altura dos edifícios e se esquecem de medir o tamanho da casa natural, do ambiente, da capacidade de seus braços para receber a população adequada ao que ela pode dar. Esquecem da chuva num país onde a chuva é certa, abundante e anunciada. Onde estão os centros metereológicos? Que importância dão a eles os governantes? Que autoridade têm os diretores desses centros para propor medidas de prevenção? Prevenção foi confundida com emergência. Nossos governos são especialistas em emergências. Chegam depois do desastre com milhões de reais que não foram aplicados no momento devido.
A ecologia ficou de fora do planejamento das cidades e da cabeça dos governantes. Até Brasília, cidade nova, cresce sem se importar com a fragilidade ecológica de sua geografia.
Ecologia em primeiro lugar. É a base da felicidade da gente que vai morar ali. É o piso da segurança dos moradores que podem viver sem medo de ver a casa cair sobre suas cabeças..

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