terça-feira, 6 de abril de 2010

BISSETRIZ E HIPOTENUSA

Para Oscar N. e Ernesto S.

Sonhei com Bissetriz e Hipotenusa, irmãs balzaquianas, de beleza geométrica e singeleza aritmética. Soem desfilar pela Esplanada dos Ministérios e pela Praça dos Três Poderes, em Brasília. Livres, seminuas, esbeltas dividem os ângulos e os retângulos da cidade, do vértice à base, em duas partes opostas. Uma, de olhos apaixonados, entrega-se ao namoro, ao galanteio, às promessas infindas, aos sorrisos sedutores dessas vestais planaltinas. Outra, de olhos cobiçosos, acicatada pela concupiscência e luxúria mórbida, arma-lhes assédios nos planos ermos, submetendo-as à defloração sem mercê.
Bissetriz é expansiva. Harmoniza momentos internos e externos. Depois de uma breve ficação em noite de luar, à beira do Lago Paranoá, com o ministro Bissetor, entregou-se à liberdade. Alegou ao juiz que o pretensioso aliciador amancebara-se com um grupo de diedros escondidos nas angulações de viadutos e avenidas. Confiou à irmã que a solidão lhe produz inigualáveis prazeres de cama e mesa, em restaurantes finos ou em botecos da W-2.
Hipotenusa, de corpo sarado, espreguiça-se molemente entre os edifícios do setor bancário e nos bares escuros dos logradouros hoteleiros. Ao contrario de Bissetriz que é livre e desimpedida, amante volúvel das noites brasilienses, Hipotenusa é opiniática. Prefere reunir a elite dos Catetos, somá-los e dar-lhes o quadrado de tudo o que lhe oferecem. Hipotenusa é nostálgica. Relembra, em confabulações secretas, um misterioso Pitágoras que lhe teria apresentado a quadrilha dos Catetos.
Pode-se admirá-las passeando pela Esplanada dos Ministérios, despindo-se diante do Palácio do Planalto, sorrindo aos catetos do Congresso Nacional, jogando-se no espelho de água do Itamarati.
E ontem à noite, como Dante e Virgílio ao sair do Inferno, Paulo e eu levamos Bissetriz e Hipotenusa ao Parque da Cidade a ver estrelas,

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