domingo, 4 de abril de 2010

CRESCER

Esses fanáticos perseguidores do crescimento econômico nos chateiam com o insistente prazer de citar números. Citá-los e compará-los com os do mês, do trimestre, do ano passado, da década perdida, com este ou aquele governo, com este ou aquele país.
É o número de automóveis fabricados e vendidos, é o percentual do trimestre findo com o do que vem depois, em perspectiva. É o número do PIB que enfrenta a tragédia do zero. É a massa salarial da classe C e D, sem contar com o 0,67% de queda do dólar e os ganhos de 0,36% da Bolsa de Valores.
Números alarmantes de acidentes de carros sem relação alguma com as condições das estradas, muitas delas em ótimo estado. O fato é que passamos rápido demais da carroça para o automóvel. E os números chatíssimos da Dengue, do HIV, da gripe suína que, para poupar o porco, é chamada de H1N1, só parecem interessar aos cálculos aritméticos. Tornaram-se obrigatórios em todos os noticiários. Não alteram em quase nada a vida pública do país. Amanhã teremos mais números com acréscimo do percentual.
Para que a semente germine e cresça, o agricultor tem que levá-la ao chão, colocá-la no buraco escuro do solo e esperar o ciclo de maturação para colher os frutos e vendê-los. O que se viu em 2008 e 2009 foi o desconhecimento da lógica do crescimento. Assistiu-se à venda compulsiva de todos os frutos econômicos nos mercados financeiros do mundo antes de plantar a semente. E continuamos nessa farra de contar números e a encher bolhas pelo prazer infantil de as ver explodir.
O governo quer números e cada vez maiores. A prova disso é o Bolsa Família, o PAC1 e o PAC2. Os analistas econômicos morreriam de fome se não tivessem números no café da manhã e nos jantares das confederações de bancos, da indústria e do comércio.
O mais trágico e digno de piedade compreensiva é ouvir um desses fanáticos da geometria do crescimento, de terno e gravata, relatar, numa entrevista, a grandiosidade da opera A força do destino de G. Verdi, na Scala de Milão, pondo ênfase no preço de 1.000 euros para assisti-la do camarote. Podia ser uma apresentação de gala com a finalidade de arrecadar fundos para os 700 mil desabrigados de Porto Príncipe, no Haiti. O importante não foi a opera nem a força do destino dos haitianos. Foi a soma fabulosa que pagou pelo ingresso.

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