domingo, 4 de abril de 2010

ESTRANHA LÓGICA

Em época de eleições, costuma-se pôr em números absolutos e em percentuais as intenções de voto dos eleitores inquiridos. Diga-se, de passagem, são as pesquisas que levam um candidato à vitória. Os eleitores se comportam como apostadores de corrida de cavalo. O que está na frente tem mais apostas.
Os analistas explicam os números da gangorra e descobrem maior ou menor vantagem de um e de outro corredor. Sabe-se, a cada mês, quem, eventualmente, está na frente, na corrida e com que velocidade avança ou porque um deles se atrasa. A escala vai de um a cem. A lógica da vitória é determinada pela vantagem de um sobre o outro. E quanto mais um deles sobe nas intenções de votos, menos chances tem de escalar a curva e alcançar a meta máxima possível. É a lógica dos inversos.
O Lula, atual presidente da República, por exemplo, tem poucas chances de subir nas apreciações dos cidadãos. A posição que alcançou é alta demais. A montanha se tornou íngreme demais para subir. E esta dificuldade é frustrante para ele e o deprime a ponto de praticar bravatas verborrágicas para distensionar os músculos. Ele sempre sonhou com o máximo nunca antes atingido neste país e está convencido de que, negociando, alcançará a glória.
A Dilma, que luta para se firmar nos 30%, tem um vasto caminho pela frente e ganha em vantagens de crescimento a seu concorrente José Serra. A senadora Marina Silva está diante de nove partes do bolo eleitoral e pode saboreá-lo devagar. É a mais felizarda na lógica das vantagens.
Os bilionários enfrentam trágicas dificuldades de se tornarem trilionários e facilmente se enfartam com tanta fome sagrada de ouro. Já o trabalhador de salário mínimo tem milhões de chances de entrar para a classe média e se tornar milionário. Uma das condições é eleger-se deputado distrital ou federal. E, assim, vamos num crescendo de vantagens ao examinar as chances de um mendigo, um miserável, os pobres do Bolsa Família. Eles têm tudo pela frente. A maior barreira para eles é chegar ao um, logo acima do zero.
Comentei essa lógica com o filósofo e pensador Pedro de Montemor. Somos escritores desconhecidos, apesar de nossas dezenas de obras publicadas. Quando alcançarmos a marca de um por cento dos dez milhões de leitores brasileiros, disse ele, conseguiremos essa que se chama probabilidade de crescer.
Sendo desconhecidos, temos a imensa e inigualável chance de sermos descobertos ainda neste século.

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