quarta-feira, 21 de abril de 2010

CINQUENTENÁRIO DE BRASÍLIA


Nesses cinquenta anos, o Cerrado mudou de cara. O Planalto Central, atacado por invasores, se encheu de gente, de soja e de vacas. Um grotão virou Lago Paranoá com a contribuição modesta de humildes córregos. Os espaços se rasgaram e formaram um labirinto de difíceis caminhos. Submetendo-se à ousadia de traços surpreendentes, conduzidos por arquitetos e engenheiros, edifícios monumentais se levantaram soterrando caliandras, canelas-de-ema e pequizeiros.

Nesses cinquenta anos, o silêncio deste ermo se rompeu com o ruído de automóveis zunindo incansáveis aos ouvidos de pessoas e pássaros. Milhares de árvores tombaram, dezenas de nascentes de água secaram e sobre o chão arrasado pisam imigrantes expulsos de sua terra natal.

Nesses cinquenta anos, nasceu uma nova geração que levará para o centenário de Brasília um olhar diferente sobre o solo ocupado.

Nesses cinquenta anos, Brasília escondeu lágrimas, amores, descasos, uma longa ditadura, um presidente deposto e um governador preso. Abrigou foragidos da ética, homiziou a mentira política, assistiu ao abuso do poder e se alegrou com a força do candango esperançoso e submisso.

Nesses cinquenta anos, não mudou o alargado horizonte que dá ao Sol e à Lua a liberdade de passear sensualmente entre o nascente e o poente. Não mudou o céu estrelado sobre o azul profundo das noites frias, brindando espetáculo de luzes e insondáveis mensagens do além.

Nesses cinquenta anos, envelhecemos um pouco, enterramos amigos e garantimos aos bares nossa teimosa presença.

Nesses cinquenta anos, Brasília se deixou amar e, no amor, foi humilhantemente traída.

Nesses cinquenta anos, Brasília é e será.

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