segunda-feira, 27 de abril de 2009

UM MORTO APENAS

A festa do quadragésimo nono aniversário de Brasília reuniu, segundo cálculos oficiais, 1,3 milhão de participantes. No meio de tanta alegria, estimulada por vários gêneros de música e teatro ao ar livre, o excesso de bebida entre os jovens provocou brigas, esfaqueamentos e uma morte.
Um morto apenas é estatisticamente invisível na multidão. Mas logo aparecem os pais, quatro irmãos, duas dezenas de primos, mais de meia dúzia de tios e tias, quatro avós, com sorte oito bisavós e uma boa porção de tios avós, sem contar os segundos e terceiros primos com as respectivas namoradas. Em pouco, um morto se torna uma multidão.
Levaram o rapaz de 17 anos ao hospital ou pronto-socorro, onde os médicos de plantão e enfermeiras constataram sua morte. O jornalista, ao lado do cinegrafista, diz aos milhões de espectadores que o moço não resistiu aos ferimentos.
O morto obriga a pensar no caixão, no velório, nas flores, no padre, no pastor, no túmulo. A policia já está investigando o caso. Três suspeitos foram presos. A delegacia não tem vagas. O juiz concede hábeas corpus aos executores. Só faltam os coveiros para as últimas diligências do enterro.
Um só morto parece pouco no meio de 1,3 milhão de brasilienses em festa, mas ele arrasta para a cova mais de uma centena de auxiliares que tornam possível o sepultamento. Durante alguns dias, os amigos da escola ou do bar, vão lembrá-lo. Na missa de sétimo dia, as últimas lágrimas. Em casa, o porta-retrato o imortaliza.

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