segunda-feira, 13 de abril de 2009

QUEREM ADAPTAR BRASÍLIA

Por falta de determinação na observância do estatuto de conservação e proteção do patrimônio cultural da humanidade, de tempos em tempos, insiste-se que Brasília precisa modernizar-se e adaptar-se às novas tendências do urbanismo. Afirma-se que Brasília tem o tamanho de uma metrópole e como tal deve comportar-se.
Brasília já nasceu moderna. Seus edifícios, suas avenidas, o traçado da ocupação do espaço no Planalto Central, espantaram o mundo arquitetônico até pelo seu estilo pós-moderno.
Os serviços públicos destinados ao cidadão foram setorizados para melhor identificação. Os amplos espaços que os separam sugerem liberdade de ação. Permitem o alargamento da mente, da imaginação, da reflexão para auxiliar os administradores na diferenciação de projetos, medidas, leis que promovam a felicidade geral da população espalhada pelo país.
Que significa modernizar e adaptar Brasília?
Uma cidade, um agrupamento urbano é, essencialmente, espaço de relacionamento, de convivência, de mútua ajuda e proteção de pessoas. A cidade é para o cidadão. Todos os equipamentos, casas, ruas, devem adaptar-se a ele e à sua vida na comunidade.
O aumento da população é a primeira das dificuldades que se antepõem à convivência. A intensidade do relacionamento diversificado se choca com a redução dos espaços físicos. As funções administrativas de Brasília, como cidade-capital, supõem sistemas diversificados de relacionamento de cidadãos que acorrem a ela, não por motivos de convivência urbana, mas para obter serviços que não encontram nas comunidades onde residem. Que tem isso a ver com a modernização e adaptação de Brasília como cidade-comunidade de pessoas que nela residem permanentemente? Para quem ou em benefício de quem se destinarão a modernização e as adaptações?
O bom senso sugere que uma cidade se adapte à evolução e modernização do cidadão comum que nela vive, à média coletiva, sem inibir as singularidades nem fomentar o individualismo predatório. Modernizar uma cidade é, antes de tudo, oferecer condições de convivência e de possível expressão da liberdade na diversidade.
Brasília é cidade-capital, é centro administrativo, é o laboratório das políticas nacionais. Estes são os elementos indicativos de sua adaptação e modernização.
Brasília foi concebida com traços de grandeza e amplitude sobre um planalto de largos horizontes. O conceito de monumentalidade se origina no e se adapta ao imenso espaço de silêncio vegetal. Espaço amplo que abriga o complexo exercício do poder político e da supervisão do extenso território nacional.
O que está sendo proposto e executado para modernizar e adaptar a cidade, na prática, é para atender ao aumento da população circundante e suas novas demandas sociais fora de Brasília.
Destacam-se dois aspectos mais evidentes para os quais fluem os projetos, o orçamento, a retórica, a legislação e a administração: indústria imobiliária e indústria viária tradicional desembocando no transporte obsoleto.
O aumento da população, em todo o território do Distrito Federal e arredores goianos, estimula a construção de habitações horizontais e verticais, prédios para abrigar serviços públicos e áreas de lazer. A abertura de novos bairros, com o método de invasões ou cessão de espaços públicos, reduz a proteção que a vegetação natural poderia oferecer ao cidadão e deteriora o ambiente físico.
A indústria viária tradicional se concentra em viadutos, ampliação, duplicação ou abertura de novas avenidas, facilita temporariamente o fluxo de automóveis e ônibus e em quase nada favorece a convivência entre cidadãos. O cidadão é jogado na linha de frente da guerra do trânsito.
Uma cidade moderna e adaptada ao homem-cidadão é a que favorece e estimula as pessoas a andarem a pé, Caminharem e conversarem. Sentarem em bancos à sombra das árvores e ouvir os trinados da passarada. Sentirem-se felizes por viver numa cidade humana.
Penso que uma cidade humana deveria optar pelo anti-pós-moderno. Para isso, se requeira talvez de arquitetos e urbanistas, geógrafos, antropólogos e cidadãos comuns que pensem e projetem os equipamentos para melhorar os índices de felicidade vegetal.
Praças, parques, jardins, bancos são elementos e equipamentos modernos para as cidades do Brasil. São complementos humanos que suavizam a fúria insana do crescimento econômico determinado pelo aumento da população.

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