segunda-feira, 13 de abril de 2009

NEGOCIAÇÃO E NEGOCIATAS

Negociam-se objetos que têm valor para quem vende e para quem compra. A grandeza do valor pode não ser simétrica para o vendedor e o comprador. Um objeto, pelas circunstâncias, necessidade ou desejo pessoal pode ter maior valor para o comprador do que para o vendedor. O proprietário do objeto oferecido pode não saber dos desejos íntimos do adquirente. Há objetos ou bens que possuem valor público declarado por um consenso coletivo. Mesmo assim, esse valor pode ser discutido e negociado. A perda e o ganho são pesados numa balança de critérios que equilibrem o poder de compra e o de venda.
São dois poderes. É o jogo do poder. O poder do sindicalista ou do trabalhador, amparado pelo direito constitucional negoria com o poder do capitalista, protegido pela força jurídica da propriedade. A força do trabalho se mede com a força do capital investido. Os bens de produção adquiridos só produzem bens de consumo, agregados de lucro, com a força do trabalho também adquirida.
O poder do trabalhador aumenta ou diminui na medida em que aumenta ou diminui o poder do investidor. No sistema capitalista, o poder do investidor lhe confere presumido direito de decidir sobre o poder do trabalhador. Seguem-se negociações para equilibrar os poderes. Chocam-se, com frequência, os poderes de greve e das demissões. O trabalhador se recusa a aceitar as condições que deterioram o valor do trabalho. O dono do capital recusa o trabalhador e o demite.
Há outras esferas em que o jogo das negociações pode ser ou é uma sequência de traições sob o título de alianças, compromissos, acordos, pragmatismo. Capitula-se. Convicções são valores pessoais ou de grupos que se praticam na vida política, orientadoras da construção de uma sociedade. As convicções têm menos caráter cientifico do que moral, político, ideológico. Nascem da inteligência criativa e se abastecem da vontade de agir segundo os trâmites da justiça, da equidade, da igualdade e solidariedade.
Talvez o mais difícil seja encontrar pessoas convictas que ousem expressar suas convicções com coerência no curso da vida política. Interesses imediatos, ambição e gosto pelo poder absoluto – na empresa ou no Estado – não raro confundem as convicções e descambam em ativismo compulsivo expresso em obras nem sempre necessárias, mas úteis à manutenção do poder. As convicções do agir tornam-se convicções do fazer. O ex-presidente Cardoso e o atual presidente Lula declararam publicamente que suas convicções políticas anteriores à eleição não tinham mais valor no presente.
A negociação das convicções, que encheram de esperança um povo, foi definida como bom senso. A desvalorização das convicções arrastou consigo a maioria esmagadora de um povo ainda submisso a caudilhos e caciques do poder. A nobreza das convicções ideológicas foi substituída por conceitos vulgares de crescimento econômico, ciranda financeira das bolsas de valores e aumento do PIB.
Em vez de negociar os possíveis produtos das convicções preferiu-se jogá-las na bolsa em busca de maior poder. O tribuno riograndense Silveira Martins advertiu, há quase um século:
− Ideias não são metais que se fundem.

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