terça-feira, 11 de novembro de 2008

TRINTA ANOS DEPOIS II

A obsessão pelo crescimento econômico, o estímulo indecente à compulsão do consumismo, o valor de papéis na ciranda das bolsas mundiais, a estabilidade da moeda pregam a nova moral do ser subordinado ao ter.
Quem possui se defende com o poder de comprar, consumir, proteger seus bens mais que sua pessoa. Quem não tem, quem está segregado por essa moral do ter, avança sobre a pessoa, única responsável pela desigualdade. Despojar o outro para que sinta os efeitos de não ter ou de perder o que tem.
Convicta ou involuntariamente, fazemos coro a essa nova moral e a consolidamos pela via do consumismo. O ruído matinal do trânsito em todas as vias da cidade e os primeiros noticiários do dia nos lembram, com entusiasmo, os princípios da moral que orientam a necessidade incontrolável de comprar alguma coisa supérflua. Somos convidados a aumentar o consumo em 10%.
Entramos todos nessa nova onda. Os que têm muito e os que quase nada têm se encontram no mesmo centro comercial em busca da igualdade econômica de consumir. Separam-nos as oportunidades não comerciais. Os mais pobres são arrastados a sacrificar a comida, a saúde, a leitura para levar um celular, um computador, uma geladeira, um carro usado para o fim de semana. A igualdade vai se fazendo com o ter e com as estatísticas do IBGE.
Enquanto Luiza, 10 anos, pode ler um livro por semana ou mais, Dalila lerá com dificuldade o manual de geografia ao longo do ano e mal sabe localizar no mapa nossa vizinha Bolívia.
E assim vão se formando opiniões políticas que elegerão governantes e legisladores. Todos presos ao anzol da moral do consumo compulsivo e do crescimento. Decisões podem ser tomadas nesse rumo, não para proteger pessoas, mas para assegurar os bens, os ativos, qualquer que seja o valor dos passivos do ser.
Quando a menina de 9 anos apareceu esquartejada em mala de viagem, na bela cidade de Curitiba, os bens materiais da família atingida se reduziram a pó. O assassino descontrolado feriu o cerne que a nova moral descuidou: a pessoa, essa desconhecida.
As chacinas nos morros do Rio de Janeiro, no regaço das famílias, nas portas dos bancos, nas escolas, roubam muito mais do que os bilhões que as bolsas engoliram.
. E, para exagerar, parece que proprietários e condutores de carros querem utilizá-los como arma de controle da expansão da população. O mais surpreendente é o estímulo dado às montadoras pelo discurso oficial e pela entrega de dinheiro público às agências de automóveis. É a cobra comendo o próprio rabo ou, como se dizia outrora, são as contradições do sistema. As facilidades e o conforto nos destruirão. Prosperidade e estupidez.

11/11/2008

2 comentários:

Unknown disse...

ahbf65@gmail.com / Antonio Henrique
Meus parabens . A parte sôbre as àguas deveria ser matéria obrigató-
ria nas escolas.
A parte do rizo é totalmente ori-
ginal, daria um belo quadro humo-
rístico.Como dizia o saudoso Sar-
gentéli : 10... nota ... 10 !

Unknown disse...

Gostei muito da matéria sobre às àguas, e deveria ser matéria obri-
gatória em escolas e universida-
des.Quem sabe se o Gabeira não se
interessa.