sábado, 1 de novembro de 2008

PERDI BILHÕES

O investidor russo Vladimir Lisin
perdeu US$ 22 bilhões nas Bolsas.



Perdi bilhões de dólares ou de euros, tanto faz,
Me informou o banco que também perdeu
O que era meu.
Contar bilhões, contei.
Gastei semanas e anos a contar.
Quando cheguei aos 20 bilhões
A bolsa de valores me notificou
Que eu ganhara mais 60 bi.
Parei de contar o que não via.
Era bastante saber o que existia.

Eu usava e gastava e dava
E torrava e comprava
E o bilhão não acabava.
Eram tantos bilhões que alguns perdidos
Não me fariam falta.

Ainda ontem, no pregão da bolsa,
Eu vi, estavam lá.
O personal manager do Banco da Islândia
No relatório codificado, de circulação restrita,
Anunciava-me um depósito secreto de dezenas de bilhões.
Repousariam, em sigilo bancário,
Por dois dias, seu peso bilionário.
Os bilhões não acordaram.
Sumiram na escuridão da noite.
Ladrões invisíveis levaram a caixa-forte
E o banco também.



Perdi bilhões.
Mas nunca deles precisei
Para comprar o avião, a Ferrari, o iate,
A mansão, o colar de ouro,
Os diamantes e as esmeraldas,
Gozar noites de gala,
De prazer e de farra.

Voaram meus bilhões.
Para onde?
Eu sabia que bilhões são voláteis
na selva do mercado.
Voam de bolsa em bolsa.
Em Londres? Em Nova Iorque? Em Paris?
Quem mexeu em meus bilhões
Que estavam naquela bolsa?
E a bolsa, onde está?

Sei de amigos que,
na bolsa e na especulação,
também perderam seu bilhão.
Outros, mais afortunados,
Perderam só milhões
Ou apenas milhares.
Meus bilhões, quem os achou?

Os bancos centrais abrem as bolsas
De seus otários e oferecem bilhões
Aos que perderam bilhões.
Esses bilhões eram meus.
São os meus bilhões perdidos.

Sou proprietário de bilhões perdidos.
Onde estão? Onde os deixei?
O que não fiz com meus bilhões?
Se ainda os tivesse
Não saberia o que fizesse.
Melhor assim. Estão perdidos.
Que faria com os bilhões que perdi?
Poderia ter feito? Poderia.


Esses bilhões perdidos me dão prazer,
Me dão poder, me fazem respeitado.
Sou o homem dos bilhões perdidos.
Que alegria e que ledice!
Vladimir perdeu bilhões, dizem, quanto não tinha!
Sou Creso. Apolo me revelou:
− ou foi a pitonisa no cabaré de Calcutá? −
“Um reino será destruído.”
Mas não disse qual.
Passarei à história e a Rússia lembrara
O homem dos bilhões perdidos.

Onde os ganhei?
No mesmo lugar onde os perdi
O camponês russo matou a galinha dos ovos de ouro
Para não morrer de fome.
Bilhões, é melhor não tê-los para não perdê-los?
Ou tê-los para perdê-los?

Perdeu-se o primeiro bilhão,
Depois mais um, enfim dezenas.
Os tostões à caixinha sempre voltam,
Mas os bilhões aos bornais
Não voltam mais.

(E parodiando Bocage)
Meus bilhões evaporei na bolsa insana,
na ambição de ganhar que me empurrava.
E alegre eu ria e louco eu sonhava
Buscar no mercado a essência humana.


29/10/2008

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