terça-feira, 4 de novembro de 2008

BRASÍLIA, CIDADE DO AUTOMÓVEL

Mais de um milhão de carros nacionais e importados circulam com placa de Brasília por suas amplas avenidas. Entopem o centro da cidade, formam filas densas no acesso das superquadras, nos retornos e nas tesourinhas. Não acham lugar para estacionar nos ministérios, nas universidades, nas quadras comerciais, ao redor dos blocos residenciais.
Levantam-se viadutos, ampliam-se ruas, abrem-se retornos nas avenidas, instalam-se pardais e retenções de velocidade para facilitar o trânsito e evitar mortes.
O pedestre em Brasília é raro, constitui um estorvo, é um cidadão atrasado e teimoso. Ele só é pedestre ao atravessar a rua para ir ao banco ou voltar do mercado ao automóvel. Quem dispensa o carro, em nossa era, é anormal ou covarde. Não sabe lutar nem competir. De uma quadra a outra, o brasiliense usa o carro. Ocupa, quase sempre sozinho, seis metros quadrados de espaço. Estaciona onde quer, onde pode ou não pode.
Reclama mais estacionamentos, nem que para isso seja preciso cortar árvores e asfaltar o chão ou furar o subsolo para encavernar-se.
Brasília é uma metrópole e sem milhões de carros e fartos engarrafamentos não se sustenta. O carro mata mais que as guerras vigentes. Está declarada a guerra do trânsito. Para separar os exércitos de automóveis em combate diário, propõe-se a construção de muretas ao longo dos eixos rodoviários. A intenção é boa. Melhor espatifar-se contra as muretas do que atropelar pedestres raros e teimosos.
Ao ver tantos automóveis, ao admirar o entupimento das vias, ao apreciar o desfile de máquinas potentes, caras e velozes, muitas delas trazidas do Oriente fascinante, cabe ainda uma iniciativa de repercussão nacional e mundial.
A Câmara Legislativa do DF, criada para desfigurar a cidade, deveria em caráter de urgência, com a presença de representantes de montadoras nacionais e estrangeiras, sindicatos de distribuidores de combustíveis, liderados pela Petrobrás e organizadores da F-1, decretar, em termos inquestionáveis, BRASÍLIA, CIDADE DO AUTOMÓVEL.

2 comentários:

Eduardo Jorge Soares Costa disse...

Muito bom. Faltou ... cidade do nepotismo, ... cidade da falta do ato de dar bom dia, ... cidade das oportunidades só para os grandes. Grande abraço

O OBSERVADOR disse...

Anigos do Encontro
É bom lebrar essas lacunas todas que, sanadas, dariam elegância humana à cidade.
Eugênio