Mais de um milhão de carros nacionais e importados circulam com placa de Brasília por suas amplas avenidas. Entopem o centro da cidade, formam filas densas no acesso das superquadras, nos retornos e nas tesourinhas. Não acham lugar para estacionar nos ministérios, nas universidades, nas quadras comerciais, ao redor dos blocos residenciais.
Levantam-se viadutos, ampliam-se ruas, abrem-se retornos nas avenidas, instalam-se pardais e retenções de velocidade para facilitar o trânsito e evitar mortes.
O pedestre em Brasília é raro, constitui um estorvo, é um cidadão atrasado e teimoso. Ele só é pedestre ao atravessar a rua para ir ao banco ou voltar do mercado ao automóvel. Quem dispensa o carro, em nossa era, é anormal ou covarde. Não sabe lutar nem competir. De uma quadra a outra, o brasiliense usa o carro. Ocupa, quase sempre sozinho, seis metros quadrados de espaço. Estaciona onde quer, onde pode ou não pode.
Reclama mais estacionamentos, nem que para isso seja preciso cortar árvores e asfaltar o chão ou furar o subsolo para encavernar-se.
Brasília é uma metrópole e sem milhões de carros e fartos engarrafamentos não se sustenta. O carro mata mais que as guerras vigentes. Está declarada a guerra do trânsito. Para separar os exércitos de automóveis em combate diário, propõe-se a construção de muretas ao longo dos eixos rodoviários. A intenção é boa. Melhor espatifar-se contra as muretas do que atropelar pedestres raros e teimosos.
Ao ver tantos automóveis, ao admirar o entupimento das vias, ao apreciar o desfile de máquinas potentes, caras e velozes, muitas delas trazidas do Oriente fascinante, cabe ainda uma iniciativa de repercussão nacional e mundial.
A Câmara Legislativa do DF, criada para desfigurar a cidade, deveria em caráter de urgência, com a presença de representantes de montadoras nacionais e estrangeiras, sindicatos de distribuidores de combustíveis, liderados pela Petrobrás e organizadores da F-1, decretar, em termos inquestionáveis, BRASÍLIA, CIDADE DO AUTOMÓVEL.
2 comentários:
Muito bom. Faltou ... cidade do nepotismo, ... cidade da falta do ato de dar bom dia, ... cidade das oportunidades só para os grandes. Grande abraço
Anigos do Encontro
É bom lebrar essas lacunas todas que, sanadas, dariam elegância humana à cidade.
Eugênio
Postar um comentário