segunda-feira, 17 de novembro de 2008

EXPANSÃO, EXPLOSÃO E RETRAÇÃO

Dá-se pouca importância ou, pelo menos, não com a intensidade devida, ao jogo louco da expansão da economia sem ater-se ao transbordamento da população. Toda a atividade humana, do nascer ao morrer, só pode ter significado em razão da vida inteligente sobre o planeta. Alimentar a vida, protegê-la das intempéries, dar-lhe conforto e garantir sua sobrevivência são pedras angulares da civilização.
Evoluímos em proteger as pessoas contra a imprevisibilidade relativa do comportamento das leis físicas que regem os fenômenos inevitáveis da natureza. Avançamos pouco e lentamente no campo da convivência entre as pessoas e criamos conflitos humanos de intensidade maior do que um terremoto.
O afã de criar e usufruir dos itens de conforto cresce a níveis de loucura, insensatez e crueldade. A corrida é desproporcional à resistência do corpo e à capacidade do cérebro em vencer distâncias, a ponto de o corredor desmaiar antes de chegar ao alvo final. O ritmo atual de expansão da ambição intelectual e volitiva encontrará, num momento imprevisível, um ponto de explosão, de contração e retração.
Brasília, o Distrito Federal e arredores correm perigosamente por essa avenida de expansão determinada pelo aumento crescente da população que se adensa sobre uma área de 5.782 km2. As duas conseqüências mais visíveis da pressão populacional se refletem na ocupação densa dos espaços por meio de assentamentos urbanos e na mobilidade de grandes massas humanas por um sistema inadequado de transporte individual que entope diariamente as avenidas e estacionamentos.
Essa dupla expansão − produção de bens econômicos e população − tende a uma explosão inevitável por meio de uma contração súbita e uma retração que pode se prolongar por mais tempo do que o desejável.
Considere-se a densidade, hoje, de 400 habitantes por km2 ou 2,500 m2 por pessoa. Esse exíguo terreitório é dividido e compartilhado por uma dezena de personagens. Entre os principais estão as vias públicas, a casa ou o edifício residencial, as vertentes de água, as matas nativas, os dutos de esgoto, as redes elétricas e de comunicação, os centros de serviços básicos e burocráticos, as áreas de esporte e lazer, os meios de transporte e mobilização do cidadão.
Todas as atividades de sobrevivência se fazem sobre essa área limitada. Todas essas atividades tendem a expandir-se, violentando-se umas às outras, pressionadas pela população que também se expande.
Hoje, 2,5 milhões de pessoas, no Distrito Federal, correm atrás dos meios de sobrevivência, do pão à casa para morar, da escola ao trabalho.
Um dos sinais de uma inevitável explosão é o número alarmente de 217 mil desempregados no Distrito Federal, acossados pela humilhação, pela segregação, pela frustração e, presumo, pela dignidade. Há crianças, em casa ou na rua, esperando pelo pão.
Não é de estranhar que os governos tentem tapar alguns pontos de vazamento desse gás explosivo com mais postos policiais e tropas de elite nas ruas e aumento crescente de distribuição de alimentos, através de múltiplos artifícios para adormecer a multidão cansada.
A inteligência social, não usada a tempo para ordenar o ritmo da expansão da população, exaure-se em adiar o momento da explosão.
É unânime o sentimento do cidadão brasiliense e dos governantes de que os milhares de carros que circulam irracionalmente por todas as avenidas, eixões e eixinhos de Brasília, tornaram a vida do cidadão um inferno.
Em que pese o rol de grandes e custosos projetos orientados a minimizar os efeitos da expansão desenfreada em processo, no Distrito Federal, temo que eles sejam ineficazes para controlar o avanço dos fatores instalados para a explosão anunciada e a conseqüente retração da onda expansiva.
Os fatores alternativos que poderiam reorientar o rumo dessa tresloucada expansão, mas sistematicamente reduzidos ao discurso, são educação, trabalho, saúde e saneamento. Concretamente, menos viadutos e mais escolas e bibliotecas, melhores professores e bem pagos, menos cadeias e mais hospitais, postos de saúde regionais, com médicos sanitaristas. Menos automóveis e cidades mais livres e limpas para o confortável caminhar do cidadão.
17/11/2008

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