segunda-feira, 12 de maio de 2008

A MENTIRA DOS ALIMENTOS

A escassez de alimentos, uma negligência anunciada, alarma o mundo. A produção de alimentos foi conduzida com critérios econômicos ao invés de políticos, isto é, para nutrir os habitantes da polis. Transformaram a comida em commodities. Era e é comum ouvir-se que o “problema” não é a falta de comida e, sim, a baixa renda para adquiri-la. É preciso lembrar que se toda a população do mundo tivesse a renda dos americanos e canadenses, seriam necessários de três a cinco globos terrestres para satisfazê-la.
Há dois pontos a considerar. Um, o crescimento global da população da Terra, com ênfase nos países pobres. Dois, a necessária e forçada geração de empregos com baixos salários e programas de distribuição de renda melhorou a capacidade de compra de alimentos. China, Índia, Brasil, África são exemplos.
Essa nova onda de consumo provocou uma inundação de gente nos armazéns. Os estoques existentes foram ameaçados pela enchente de bocas abertas. O alarme soou porque os invasores de supermercados esvaziam as gôndolas que abastecem fartamente e com desperdício os privilegiados da boa comida, em casa ou nos restaurantes.
A reação dos que mandam na economia foi imediata. Aumentaram os preços dos alimentos, elevaram as taxas de juro para que os de baixa renda consumam menos e os bem-pagos continuem sua festa até a madrugada.
Há vinte anos, como Secretário Nacional de Cooperativismo, no âmbito do Ministério da Agricultura, sugeri ao ministro Pedro Simon e, depois ao ministro Íris Rezende, um programa de produção de alimentos da dieta nacional através de um sistema de encomenda. O ministério da agricultura anunciaria o volume necessário de cada produto prioritário para abastecer a população brasileira, prevendo a taxa de fertilidade. Tomando-se o leite como exemplo, calculando-se uma dose de 250 ml/dia por pessoa, uma população de 200 milhões demandaria uma produção de 50 milhões de litros/dia. Os subprodutos do leite requerem outros cálculos.
A demanda seria distribuída entre os estados da federação e os recursos financeiros, técnicos e logísticos seriam garantidos pelo governo em orçamentos próprios e pelas empresas produtoras.
A sugestão foi objeto de riso e de argumentos desestimuladores, pois o governo não teria capacidade de planejar, convocar, controlar e garantir a continuidade do programa.
Eles tinham razão. Hoje, a capacidade do governo está dirigida com eficiência para commodities que geram negócios bilionários e aumentam a fome da humanidade. Espantados diante da própria negligência e falta de previsão, põem a culpa na onda de pobres que se atrevem a consumir os alimentos dos ricos.
Os promotores do PIB e os defensores dos programas sociais de distribuição de renda esqueceram-se do outro lado da questão: produzir alimentos. Que crescimento econômico é esse? Que PIB é esse que deixa o mundo sem comida?

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