domingo, 25 de maio de 2008

O BRASIL QUE CONHEÇO

O Brasil que eu conheço de ver e de ouvir está debaixo das pontes e viadutos de todas as cidades. Ali se reproduzem, cozinham, se embebedam, dormem, agradecem a generosidade dos doadores e não sabem o nome do Ministro da Justiça.
O Brasil que eu conheço tem o rosto da diarista que toma dois ônibus e um metrô para chegar ao local de trabalho, onde a patroa recém acordou.
O Brasil que eu conheço ganha um salário cuja diária é de R$ 5,75 para comer, pagar a luz, a água, o chinelo de dedo, a roupa de festa, se endivida com a prestação da geladeira, do celular, ajuda a mãe velhinha e com um sorriso de bem-aventurada vai à Caixa poupar dez reais.
O Brasil que eu conheço não lerá um só livro em toda sua vida, não gasta dinheiro para comprar uma revista nem joga dinheiro fora em jornal diário. Será sempre dependente do discurso que lhe acena para mais um prêmio que sua pobreza merece.
O Brasil que eu conheço está nos semáforos, com criança no colo, de mão estendida para a esmola, com um cartaz no qual diz ser desempregado, filhos com fome em casa, precisa comprar remédios para o diabetes, a mulher está grávida. Meninas e meninos, enquanto o sinal não abre, vendem gomas, pé-de-moleque, fazem malabarismos diante dos condutores indiferentes ou comem fogo em vez de incendiar os carros.
O Brasil que eu conheço é essa turma de rapagões nos estacionamentos públicos, organizando o uso das vagas, arrumando os carros em filas duplas ou triplas – deixe em ponto morto – lavam o automóvel, traficam drogas, discutem futebol e tramam conquistar a menina morena nas ruas escuras do Novo Gama.
O Brasil que eu conheço está endividado até a raiz dos cabelos no Ponto Frio, na C&A, no Carrefour, no Pão de Açúcar, no Extra, no cartão de crédito e pede emprestado R$ 20 ou R$ 50 para fazer a feira da semana.
O Brasil que eu conheço não aposta na Bolsa de Valores, não compra dólar, não decifra porcentagens, não sabe calcular os juros do cartão de crédito ou da prestação da máquina de lavar roupa.
O Brasil que eu conheço é vendedor pirata, guarda noturno que faz bico para pagar a prestação da casa,
O Brasil que eu conheço diz vrido, tauba, pedreste, imposto pedrial, ômbus, acredita no detergente Veja e no Bombril.
Há um outro Brasil que só 10% da população conhece e abocanha 75% da riqueza nacional.


sábado, 24 de maio de 2008

2 comentários:

Bel Guidi disse...

Meu caro amigo Eugênio,
como tudo que conheço de sua autoria, " O Brasil que eu conheço" está demais: Claro, brilhante e contundente.
Continue a escrever matérias tão oportunas.Você sabe fazê- lo como poucos. Um grande abraço
Belkiss guidi

O OBSERVADOR disse...

Obrigado, Belkiss
Estive viajando e o mês de junho passou em branco.
Recomeçarei.
Um abraço,
Eugênio