quinta-feira, 3 de julho de 2008

SUTILEZAS DE VIAGEM

MENDIGOS

Estamos acostumados com nossos mendigos de rua, nos semáforos, nas portas de igrejas ou bancos e restaurantes. São mendigos de país pobre, onde um cidadão possui iate de milhões, carros de milhares de reais e concidadãos que vivem de centavos e produzem filhos para o salário mínimo.
No Primeiro Mundo, os mendigos são altos, bem-vestidos, esbeltos uns, envelhecidos outros, cheirando a vodka ou maconha. Nas ruas de Paris ou Helsinque, são romenos que adotaram uma atitude religiosa para mendigar. Ajoelham-se na calçada sobre uma almofada, juntam as mãos em posição de prece, fecham os olhos e permanecem tão imóveis quanto as pedras. Em sua frente, a vinte centímetros, uma lata de coca-cola destampada aguarda pacientemente as moedas dos transeuntes distraídos pelo sol do verão.
Os organismos internacionais que vigiam os circuitos da riqueza alertam que um bilhão de pessoas passa fome. O crescimento econômico, um dos ícones da nova religião do progresso, não consegue abrir espaço para todos. Há quem diga que com menor crescimento haveria menos pobres. O crescimento econômico tem aumentado de maneira explosiva a distância entre ricos e pobres.
A população do mundo cresce em ritmo mais acelerado do que a capacidade e os meios de administrar os serviços que ela demanda.

FRANKFURT

Na escala entre Lisboa e Helsinque, em Frankfurt, conseqüência de um jantar com bons vinhos, comprei meio litro de água. Paguei a ninharia de 3 euros, ou seja, R$ 8,30. Água de fonte, como todas as águas. Nenhuma mentira nisso. Mas, até chegar na garrafinha plástica de 500 ml, a água suja dos rios passa por um longo processo industrial que envolve patrão, empregados, transporte, impostos, greves e lucros indecentes. O preço da água é um severo anúncio das incertezas dos próximos anos.

GRADES EM HELSINQUE

Helsinque é uma cidade pacata, com pouco mais de 500 mil habitantes, capital da Finlândia, país dos lagos. Nela, tem-se a sensação da liberdade, da segurança, do bem estar. A pequena população da Finlândia, duas vezes a do Distrito Federal, favorece o ambiente de tranqüilidade e silêncio. Não há grades nas janelas, nem muros entre as casas. A única grade protetora de propriedade que vi, em Helsinque, foi na vitrine da imensa loja de venda de bebidas alcoólicas, monopólio do Estado. Realmente, constitui irresistível tentação para os amantes do álcool essa indiscreta e sensual mostra de garrafas tão próximas dos olhos e da mão. Sabe-se que o finlandês tem uma invejável resistência aos efeitos espirituosos da vodka, dos licores e dos vinhos, adquirida no enfrentamento de rigorosos invernos.

PS. Minha ausência deveu-se a um périplo pel Finlândia, França e Portugal.

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