CARTAS DA PRISÃO
Amigos, a casa, desde as cavernas de nossos primos neandertais,
é o lugar para se proteger das feras. Hoje, do vírus invisível. Saio de casa
por extrema necessidade para ver as ruas solitárias e desertas. As árvores estão
serenas e felizes, rodeadas de silêncio e livres dos gases tóxicos dos carros.
Saio duas vezes por semana, por extrema necessidade de ver o Sol do outono
correndo pelo céu azul de Brasília. Por extrema necessidade, saio à noite para
ouvir estrelas e falar com Aldebarã. Saio por extrema necessidade para estar
entre as árvores e pôr os pés no riacho cristalino do Sítio das Neves. As
árvores falam. As águas cantam. São minha extrema necessidade. Em casa, na
companhia de Hilkka, acompanho o rodar silencioso do planeta, aliviado da insaciável
ganância humana. Nos longos dias, do quarto à sala e à cozinha, converso
amigavelmente com o predador invisível. Sei que anda por perto. Sinto-me um
cabritinho inexperiente observado pelo chacal faminto. Estar vivo é um milagre.
Um comentário:
Obrigado Ahmed
Postar um comentário