quarta-feira, 8 de abril de 2020

CARTAS DA PRISÃO - CECÍLIA MEIRELES


CARTAS DA PRISÃO

AMIGOS,
A carinhosa poetisa Cecília Meireles,
antecipando-se à guerra contra o vírus 19,
deixou-nos, em versos, a solidão
que milhares de sobreviventes
não puderam dar aos que
desceram ao silêncio chão.

DESPEDIDA
Para mim, e para nós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranquilo:
Quero solidão.
Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? – me perguntarão.
- Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras? – Tudo. Que desejas? – Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo meu rumo na minha mão.
A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, tudo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...)
Quero solidão!
6.4.2020

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