CARTAS DA PRISÃO
DIETA DE INSETOS
O homo sapiens está no planeta há 300 mil
anos, depois de assistir à extinção dos Neandertais. Nossa sobrevivência
dependeu da grande variedade de alimentos que a natureza nos ofereceu. Não precisou, durante milhares de anos, ir a
Paris para saborear escargots, caracóis, da família das lesmas, apreciados por
gregos e romanos. Há milhares de anos, o homo
sapiens alimenta-se de insetos. Um dos melhores aperitivos da Colômbia e
países andinos são as hormigas culonas
(nossas tanajuras) com cerveja gelada. Alguns jornalistas brasileiros horrorizam
seus ouvintes e leitores com expressões que ridicularizam os hábitos primitivos
de orientais – chineses, japoneses, africanos – por comerem morcegos, ratos,
preás e pangolinos (tatus). A lista
de insetos da dieta do homo sapiens é
extensa e variada, muito antes da pizza e da macarronada, dos testículos de
touro e do joelho de porco. Mais de 5 bilhões de homo sapiens aderimos ao boi e ao frango. Segundo a FAO, cerca de
dois bilhões de homo sapiens têm, na
dieta de proteínas e cálcio, gafanhotos, grilos e larvas de besouros. Da cochonilha
se extrai o corante vermelho que se usa nos temperos das melhores cozinhas do
mundo.
O Brasil
oferece 135 espécies de insetos comestíveis para a dieta de diferentes
populações regionais: himenópteros
(formigas, saúva, tanajura), coleópteros
(besouros), o bicho do tucumã ou larva de besouro, na Ilha do Marajó (o óleo desse
bicho substitui a manteiga), cigarras, cupins, gafanhotos, bicho do coco (vive
em coqueiro, babaçu e carnaúba). A vida se nutre de vidas.
A Jimini’s
francesa comercializa barras de cereais à base de farinha de insetos, servidos
nos aviões, além de petiscos feitos com insetos desidratados e temperados. Na
Alemanha, a BugFoundation oferece ao homo
sapiens hambúrgueres à base de soja e larvas de besouro. Uma concorrência
desleal do homo sapiens com aves e
lagartixas. A integração homo sapiens
com insetos talvez seja a melhor vacina contra os velhos e os novos vírus que
estão no planeta há 60 bilhões de anos.
(GRAWOBSKI, N. T. International
Jornal of Food Microbiology, 2017, PESQUISA
FAPESP, 290.)
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