(foto: Eugênio Giovenardi - Ribeirão das Lajes,DF)
CONTAR PARA VIVER – RIBEIRÃO DAS LAJES
Conheci, em 1974, o Ribeirão das Lajes, DF, afluente
do rio Santo Antônio do Descoberto. Ainda desabitadas, ambas margens receberam,
nas últimas quatro décadas, centenas de famílias dedicadas a diversas
atividades agrícolas: bovinocultura, ranicultura, suinocultura, avicultura,
reflorestação com pinus e eucaliptos, além de vários condomínios residenciais e
casas de repouso.
A conformação geográfica da área forma belo vale de
20 km, ao Sul, alimentado por dezenas de nascentes perenes e centenas de fontes
intermitentes que afloram no período chuvoso.
Durante mais de 40 anos, acompanho o fluxo do Ribeirão,
no período de chuvas. A partir do ano 2000, o Ribeirão deu sinais de mudança no
volume de água recebido das chuvas. As águas pluviais elevavam o nível do
Ribeirão em até 8 metros. Ao longo de semanas, o nível se mantinha um metro acima
do curso normal.
As chuvas ativavam as nascentes e, mesmo durante os
veranicos de janeiro e fevereiro, o volume de água permanecia alto.
A ocupação humana das margens provocou o
desmatamento e o uso inadequado do solo. O desnudamento da terra secou dezenas
de nascentes. As águas se afundaram por falta de vegetação.
A partir de 2005, o Ribeirão revela, mesmo durante o
período chuvoso, a escassez regional de águas. Longe dos oito metros de décadas
anteriores, escassamente o nível do Ribeirão cresce dois metros e meio apesar
de precipitações mensais de 300mm.
Lamentavelmente, com a ocupação inadequada da terra,
o Ribeirão é um canal de múltiplos detritos, dejetos, sacos plásticos,
garrafas, animais mortos e odor de esgoto. O bairro Engenho das Lajes (DF),
7.000 habitantes, recebe, via Caesb, águas do Ribeirão.
Em 2005, escrevi um libreto-manifesto bilíngue – O RETORNO DAS ÁGUAS – e previ a escassez
e o racionamento de água que aflige, desde 2016, a população do Distrito
Federal.
8.1.2018
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