segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

LIXO: A MODA DA REFORMA


Parece haver uma relação estreita entre a produção de lixo sólido proveniente de reformas de prédios e o uso intensivo de material tanto de minério de ferro quanto de materiais não metálicos como o cimento, tintas e suas respectivas embalagens.
A descarga do entulho de construção e reformas de casas, prédios e apartamentos, misturado a lixo indiscriminado, se faz em grandes quantidades, no DF, à margem das rodovias. A BR-060, do quilometro zero ao quilometro dez, é um exemplo degradante.
Há vários aspectos a serem considerados. O primeiro se refere ao conceito de crescimento econômico refletido no PIB manejado por políticas erráticas do governo. Estímulos epilépticos são dados ao setor da construção civil em caráter global, em apoio à aquisição da casa própria (40 m2), à aquisição de equipamentos, seguidos de reformas ou ampliações (minha casa melhor). O déficit habitacional anunciado nem sempre merece crédito. Há milhares de apartamentos desocupados pelo país.
O segundo aspecto inclui uma extensa gama de linhas de crédito para aquisição de material de construção e equipamentos domésticos. Essas linhas de crédito se vinculam a vários programas de injeção de dinheiro diretamente no consumo como Bolsa Família, Brasil Carinhoso, Bolsas de estudo para jovens universitários e outros artifícios para manter a economia estável.
O terceiro aspecto, talvez o que mais afeta o ambiente, é a utilização intensiva de material extraído de alguma forma da natureza de forma indiscriminada. Olhando-se para algumas áreas do DF, como Águas Claras, Sudoeste, Noroeste, Taguatinga e, hoje, Ceilândia e Samambaia, é raro que alguém pergunte: de onde veio todo o material transformado em prédios que abrigam mais de um milhão de pessoas e seus respectivos automóveis? A impermeabilização do solo, a extensão arrasada da vegetação nativa, a destruição do habitat da fauna regional, a mudança climática provocada pelo superpovoamento urbano, a produção de dejetos líquidos e lixo sólido dão ao DF um cenário de caos e de ingovernabilidade.
O quarto aspecto que se relaciona aos anteriores indica uma forte adesão generalizada à moda das reformas, ampliações e puxadinhos. O crédito fácil, rendas provenientes de várias fontes, não necessariamente do trabalho produtivo e até de variado leque da corrupção e sonegação, conjugado com a publicidade e estímulos psicológicos ao consumo, induzem as famílias a aderir à moda de reformas prediais. Como adquirir o freezer, forno elétrico, micro-ondas, fogão de seis bocas, lavadora de louças, batedora de bolo, multiliquidificador etc. sem ampliar a cozinha?
Do ponto de vista ecológico e ambiental, qual é o custo-benefício do crescimento e da expansão urbana no DF? Qual é, em números, o impacto das emissões de gases estufa provenientes da intensa construção, da expansão urbana e da poluição ambiental provocada por 1,5 milhão de automóveis? Talvez, o pior efeito ambiental da enorme produção de lixo urbano indiscriminado se dá sobre a qualidade da água, associado à destruição de mananciais pela desertificação urbana.
A preservação ambiental e a conservação ecológica do bioma que nos abriga estão longe das políticas e práticas da população brasiliense, das instituições públicas e privadas e da administração distrital e federal.
Há, em curso, um processo de deseducação ecológica e ambiental, travestido de crescimento econômico sustentado pela população extraída da miséria e da pobreza material pelo fórceps da renda sem produção.
Seria desejável que a miséria e a pobreza material fossem vencidas com a mesma soma de dinheiro aplicada em processo de educação fundamental, formação profissional alternativa e uso racional dos bens finitos da natureza. Ultrapassados conceitos de educação conduzem a obsoletos comportamentos e costumes redesenhados.

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