quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

ÁGUAS SUBTERRÂNEAS


Aquíferos, lençol freático, mares interiores, como os denomina Euclides da Cunha (Os sertões), são reservas de água limpa pela profundidade em que se encontram, mas ameaçadas pela variedade de elementos poluidores que a ação humana pode lançar ao solo. O período chuvoso no Centro-Oeste é a época de acumular com inteligência as águas que a natureza gratuitamente oferece.
Os aquíferos compõem um sistema subterrâneo que se comunica com os oceanos e com a superfície por meio de olhos d’água. Numa microbacia hídrica pode haver um ou mais olhos d’água que brotam da mesma reserva subterrânea. As águas subterrâneas se comunicam através dos veios das rochas e sua erupção se faz em lugares distintos segundo a conformação geológica.
Para a recarga dessa reserva é mais eficiente uma ação de preservação em todas as nascentes que se ligam ao aquífero. O sistema subterrâneo sugere um sistema coerente na superfície. O mapeamento das nascentes e canais de esgotamento de águas pluviais é necessário para que todos esses pontos cooperem ao mesmo tempo para captar e deter o volume de precipitação durante o período de chuvas.
O mapeamento das nascentes e canais de esgotamento é uma ação necessária que precede o planejamento das barragens e sua localização. O planejamento obedece ao sistema subterrâneo do aquífero e à ordem de baixo para cima. A captação e detenção da água da chuva se fazem em toda a extensão das águas subterrâneas a partir das nascentes. O sistema de barragens de captação e detenção que implantei no Sítio das Neves (700.000 m2) cobre toda a área hídrica na qual, no período chuvoso, brotam nascentes. A construção de barragens ou açudes não deve ser aleatória no sentido de acumular água para necessidades produtivas ou de uso doméstico. Fazer açudes, poços tubulares ou artesianos em qualquer lugar, sem atentar para o sistema subterrâneo do lençol freático tem as desvantagens de exaurir as reservas, de acumular uma mínima parte da precipitação e favorecer a evaporação da água exposta a horas de sol.
A acumulação de águas da chuva, especialmente em regiões de longas estiagens, três a seis meses, tem a função de regenerar a vegetação nativa e facilitar a infiltração e a percolação que realimentam os aquíferos.
A quantidade de água que aflora nas nascentes não é homogênea. Umas nascentes são ou podem ser mais volumosas do que outras. Umas jorram por mais tempo mesmo após o término das chuvas. Outras cessam com um curto período de estiagem. É possível reviver uma nascente que se esgotou por degradação do solo, por efeito de queimadas ou processos produtivos inadequados. Há que se criar condições para que uma nascente reviva: devolver a quietude à área devastada, construir barragens ao longo do curso de água, dar tempo à regeneração vegetal. A Vertente do Meio em meu Sítio começou a reviver depois de uma década e meia de cuidados e paciência.
A água da chuva e a que jorra das nascentes são captadas e retidas ao longo do curso d’água e nos canais de drenagem (grotas) que se formaram há milhares de anos. Corrige-se com as barragens a erosão milenar. Detêm-se volumes de água em toda a extensão da área. A umidade que se alastra no solo favorece a regeneração e a reprodução vegetal contínuas em todo o espaço.
A cadeia água, vegetação, aves e animais terrestres se expande. A biodiversidade garante a sobrevivência e a reprodução das espécies na biocomunidade preservando a lei biológica da interdependência dos seres vivos do bioma.
A precipitação de apenas um milímetro significa, para o Sítio das Neves, um volume de 700.000 litros de água limpa. Ao contrário de áreas vizinhas degradadas, esses 700 metros cúbicos de água se armazenam na vegetação. A vegetação é uma das principais barragens de captação e detenção da água da chuva. Infelizmente, quase nenhuma atenção se dá a ela e, com a maior indiferença e ignorância, queima-se ou arrasa-se o solo com gigantescas rodas e pesados discos de tratores.

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