terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A ESCASSEZ BATEU À PORTA



A família de dona Lúcia, moradora de bairro paulistano, até ontem, gastava 2.400 litros de água por dia. Refrescava varandas da casa, dava banhos às crianças esfogueadas pelo calor. Enchia piscinas infláveis e regava as plantas e as flores.
Teve que reduzir o consumo diante da escassez e pôde reduzi-lo a 240 litros diários sem morrer. A escassez de água bateu à porta de milhares ou milhões de cidadãos paulistas e mineiros.
Os grandes rios e lagos do continente brasileiro são motivo de orgulho e ufanismo. O Brasil guarda ao redor de 12% da água doce do planeta. Outros países se contentam com escassos 50 litros diários por pessoa. Dependendo do país, esses 50 litros se dividem entre os membros de toda a família.
Diante de tanta abundância em nosso país, a última preocupação do brasileiro é poupar água. Lavam-se calçadas e automóveis. Enchem-se, em Brasília, milhares de piscinas particulares. A rede de água nos edifícios públicos, nas casas e apartamentos oferece inesgotável volume de água com a débil restrição de uma conta mensal. A água goteja sem parar nos chuveiros, no vaso, na pia, no lavabo, nas torneiras espalhadas pelos condomínios.
Continuamos sendo o país com milhares de km3 de água doce, cujo volume ninguém calcula por ser da ordem dos bilhões de metros cúbicos. Ao mesmo tempo, o racionamento, em várias cidades de São Paulo e Minas Gerais, se impõe pela natureza e não por atos governamentais de sabedoria e prudência política. Por quê?
Sabemos cosumir água. Não sabemos ou não acordamos para as técnicas simples e milenares de produzir água. Quarenta anos de cuidados com as nascentes de meu Sítio das Neves, no DF, ensinaram-me a produzir água.
Os governos, inspirados pela megalomania das gigantescas represas, investem rio abaixo. No meu Sítio, eu invisto rio acima protengendo com pequenas barragens as nascentes que formam os grandes rios e abastecem as imensas represas.
Na longa estiagem de janeiro e fevereiro, mais de 20 dias, com menos da metade da precipitação esperada para esses meses as águas fluem vindas de aquíferos profundos e sistematicamente recarregados.
Em São Paulo e Minas Gerais, o desmatamento, a invasão das áreas protetoras das nascentes, a impermeabilização do solo, o desvio dos fluxos de água e da direção dos ventos mataram as fontes e destruíram as barragens naturais de captação e de detenção das águas da chuva.
Para onde foram as águas que alagaram São Paulo e muitas cidades de Minas Gerais? Para onde foram as águas da chuva que arrasaram cidades pacatas do Vale da Ribeira?
Atrevo-me a dar um conselho gratuito aos sábios administradores do orçamento construído com dinheiro alheio: estimulem e aprovem pequenos projetos de produção de água rio acima para garantir a eficácia dos megaprojetos rio abaixo.
Difícil é convencer organismos públicos a financiar ou subsidiar pequenos e baratos projetos que garantirão o abastecimento de água aos cidadãos sem espasmos administrativos.
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