sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

MEUS OITO ANOS



Quando completei quarenta anos, a vida parecia não ter fim. A expectativa de vida para os homens, diante do progresso da ciência e dos cuidados da saúde era estimada em 68 anos.
Olhei para frente. Aquele número estava longe. Tinha 28 anos para completar a arriscada aventura de viver. Quase três décadas. O tempo contado de dez em dez parece uma eternidade.
O tempo foi correndo. Vi crescer a filha que sempre tinha e tem 35 anos menos que eu. Nasceram duas netas e apareceu meu primeiro livro que me consumiu vinte anos e vários cadernos manuscritos.
Pelo caminho, ficaram amigos que as estatísticas não incluíram em seus cálculos. O destino quis que eu ultrapassasse a linha de chegada e, hoje, aos 76, não pertenço ao número oficial dos vivos. A matemática também mudou. A contagem do tempo que eu fazia por dezenas, agora, reduziu-se a unidades.
A teimosia de viver, porém, dá às unidades uma duração infinita e eterna. A consciência da vida pessoal não admite que se acabem os dias nem os anos. No entanto, não é mais em dezenas que posso prever minhas peripécias. Contento-me em dizer que poderei escrever um livro por ano. E um livro é uma eternidade. Brincar com a eternidade se torna um truque para burlar as estatísticas.
Ouso dizer que chegará o tempo em que começarei por contar os meses, depois as semanas e, finalmente, os dias para recolher-me ao silêncio imortal dos que regressam ao ventre universal.
“Como são belos os dias
Do despontar da existência!
Respira a alma inocência
Como suspiros a flor!”.

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