sexta-feira, 12 de novembro de 2010

DILMA, PRESIDENTE



Passado o furacão da propaganda eleitoral e realizado o voto universal, emergiu das urnas uma mulher para presidente do Brasil. O povo estará cansado de homens emasculados pela tortura política e, por isso, elegeu uma avó para presidir o país? Ela cuidará da política e os homens da economia? Ou vice-versa?
Os meses que precederam as datas de votação popular foram marcados por tumultos verbais no campo eletrônico da guerra virtual. Viram-se agressões nas ruas, acordos espúrios entre inimigos históricos, bate-boca sonolento em debates de TV. Ouviram-se muitas promessas do tipo “eu vou fazer”, “eu acho” e nenhum plano de governo com horizonte previsível.
Esse tornado eleitoral não logrou mover o interesse dos eleitores e uma boa parte deles foi às urnas para cumprir o ritual da democracia. Dos 135,8 milhões de cidadãos inscritos, com direito e dever de votar, 38,5 milhões se abstiveram ou anularam o voto. Dos 97,2 milhões de votos válidos, 54,4 milhões (40%) foram para Dilma e 42,7 milhões (31%), para Serra.
Nenhum desses números é exato como, alias, pouco é preciso no país do jeitinho. Somos o país do mais ou menos. Bom, bom, não é, mas... passa. Escondemo-nos matreiramente atrás da margem de erro. Três pontos para mais ou para menos.
A democracia eleitoral brasileira busca salvar-se com duas tentativas para se colocar acima da metade dos eleitores. Metade mais um é indício de maioria e, portanto, de aceitação democrática das futuras decisões que ninguém adivinha. Os candidatos, ou por serem muito bons ou muito ruins, mesmo com dois turnos, não conseguiram que um deles alcançasse, pelo menos, metade dos eleitores inscritos.
A democracia sobrevive de povo. Não se pode crer que os candidatos estejam satisfeitos com esse fracasso eleitoral. Acostumamo-nos ao mais ou menos e à imprecisão, às promessas e às mentiras. Por isso, 38,5 milhões de pessoas, cidadãos, eleitores não nos comovem nem inquietam. Esse número representa uma população maior que a de todos os países escandinavos ou quase oito vezes a da Finlândia e pouco menos que a da Colômbia.
A presidente eleita com 40% dos votos do eleitorado brasileiro, com sua experiente trajetória de mãe e avó, terá que lançar um olhar maternal para os desejos ocultos e insatisfeitos da expressiva população que jaz à margem da democracia.

Observação:Quem quer saber por que ressurgiu a CPMF é só olhar para o mapa resultante das eleições. O vermelho na parte de cima e o azul, na de baixo.

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