quinta-feira, 18 de novembro de 2010

CARTA A ALDO



Tenho acompanhado alguns debates entre professores da UnB com sua participação. Os gloriosos feitos da economia, especificamente creditados ao governo do presidente Lula, não podem ser ignorados. Seria humilhante para o povo brasileiro se o país não andasse para frente. Todos os governos tiveram momentos de céu de brigadeiro na economia e também de tormentosos ciclones como o de 2008/09.
Um governo prepara caminhos para o outro. E há caminhos que precisam de reconstituição. Espera-se que Dilma faça mais e melhor, uma vez que seu antecessor, é opinião geral, deixou as pistas abertas.
O que parece estranho é a débil interpretação que se faz de aspectos importantes da vida atual, especialmente a ênfase que se está dando ao consumo e às facilidades de crédito. A propaganda, as formas de sugestão quase autoritárias canalizadas pelos governantes, pelos analistas e pela mídia criaram tal obsessão consumista a ponto de provocar má consciência e acusar de lesa-pátria os que não compram, ou resistem em intumescer os percentuais estatísticos nas datas comemorativas ao longo do ano.
 O pobre tem direito a carro, geladeira, máquina de lavar! Essa ordem foi dada em praça pública sob aplausos. O pobre ou o cidadão têm direitos? Por que o carro é um direito? Por que não um transporte coletivo eficiente, barato, limpo e confortável? Essa técnica de propaganda está contaminando os cérebros.
Estamos sufocados por números e percentuais e, pior que tudo, os aceitamos e acreditamos neles como se fossem oráculos da verdade. Eles chegam a alterar o funcionamento do cérebro e a capacidade de pensar. Acreditamos que a economia capitalista, como a nossa, serve aos pobres e será capaz de diminuir a desigualdade que separa os cidadãos de nosso país. Querem nos vender uma receita demasiadamente fácil.
Aceitamos o argumento de que a desigualdade diminuiu quando 1 passa para 2 e 100 passam só para 150. E nos contentamos com o 100% e o defendemos como êxito e, ao mesmo tempo, acreditamos que o 50% é prova de diminuição da desigualdade.
Vamos supor que o SM aumente de 10%, passando de R$ 510 para R$ 561 e que o aumento de um ordenado de R$ 30 mil seja apenas de 5%. Os R$ 1.500 acrescidos representam três vezes o SM. Onde está a igualdade ou como diminuiu a desigualdade? Que se compare o grupo de SM e sua trajetória de renda é um aspecto lógico importante. Mas tomar essa trajetória de renda para comprovar a diminuição da desigualdade afigura-se como falsidade ideológica e atentado à lógica da realidade. Estamos consciente ou inconscientemente defendendo o status quo, os nossos privilégios.
Somos vítimas da propaganda subliminar de que o consumo vai salvar a economia e que o grande trunfo é levar as massas aos centros comerciais. A loucura do poder está dominando o inconsciente político de intelectuais e da população por essa propaganda veiculada abaixo do consciente e acima do consciente traduzido pela palavra felicidade. Felicidade de consumir.
A proposta de novos impostos segue a mesma lógica. Os impostos caem no BNDS e, daí, para o pré-sal ou tomam caminhos por decisões incontestáveis.

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