sábado, 9 de janeiro de 2010

LÁ E CÁ

Em Santa Catarina, há dois anos (2008), cronicamente em São Paulo, em Angra dos Reis (RJ), Cunha e São Luís de Paraitinga (SP), Agudos e Restinga Seca, no RS, neste começo de 2010, a irracionalidade contumaz do homo sapiens está pagando caro pela ocupação imprevidente do espaço natural.
Há discursos ambientalistas demais e planejadores urbanos de menos. Alguém perguntou, num simpósio de arquitetos, se o urbanista deve atuar antes da edificação da cidade ou depois do caos instalado. O país não acordou ainda do pesadelo do crescimento descontrolado da população que resulta num extremo adensamento de áreas com características de superpopulação. Há mais de cinquenta anos existem informações sobre êxodo rural, expulsão de milhares de pequenos produtores pela agricultura comercial e forte tendência à urbanização. Alguém levou esses dados em consideração para acomodar os exilados do campo?
Os administradores municipais, contratados ou eleitos, desconhecem a geografia e a geologia de sua terra. Os assentamentos urbanos se expandem impulsionados por uma força inercial gregária e os serviços básicos de água, energia e esgoto vêm a reboque e a passo lento. Educação, saúde, transporte e áreas de lazer, a conta-gotas e quando der, se sobrar dinheiro. Em outras palavras, nem os administradores nem a população quer saber o que dizem as múltiplas leis que determinam a ocupação do solo. Essas leis simplesmente não pegaram.
E, assim, vão se formando desertos de variadas dimensões, com a denominação de condomínios, vilas, bairros, cidades, capitais, metrópoles. Deserto se caracteriza pela pobreza extrema de vegetação primária, pela secura quase absoluta, ampliação térmica acima da média e maior duração diurna imposta pela iluminação artificial. Nossas cidades, com pouquíssimas exceções, são desertos de tamanhos variados. O deserto urbano é a agravado pela intensa e contínua ação da presença devastadora de máquinas e da população assentada no processo descontrolado da reprodução, da sobrevivência e do conforto, embargando a resposta ambiental e ecológica da natureza.
Quando vejo, lá, as cenas de deslizamento de morros sobre habitações, de rios transbordando sobre ruas, invadindo c derrubando casas, de pontes sendo levadas pela fúria das torrentes e, cá, nas cidades-satélites do Distrito Federal, a falta de água, de energia elétrica e esgoto, grandes extensões sem arborização, assalta-me a dúvida sobre o bom uso da razão do homo sapiens.
De par com a impressionante tecnologia que se desenvolve no campo eletrônico, em todo tipo de maquinaria e engenhosos artefatos, a inteligência do homem recalcitra na compreensão das leis da natureza e pretende se impor a elas ao invés de conviver com elas. Essa atitude presunçosa de dominação, de apropriação, de exploração das riquezas para enriquecimento exacerbado e ambiciosa satisfação de poder, está custando demasiado caro aos seres vivos e produzindo sofrimentos desnecessários à espécie humana.
É preciso convencer a humanidade de que é urgente fazer as pazes com a natureza. Pensar, afirma Pedro de Montemor, é ainda uma medida inteligente do homo sapiens para desfrutar das belezas e das riquezas do planeta Terra.

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