domingo, 25 de outubro de 2009

NÓS, BRASILEIROS

O brasileiro típico é sonegador de informações e de impostos, atrasa o aluguel, a conta da água, da luz e do condomínio. Não sabe o que é horário porque amanhã é outro dia. Se não é pressionado não faz. Sem polícia por perto, a lei não existe. Mente sempre que surge oportunidade, enrola o credor para não pagar, quer tudo gratuito, dinheiro sem trabalhar.
Enche os estádios e quer que seu time sempre ganhe de goleada. Para ele, vice-campeão e nada é a mesma coisa. Acha que torcer para seu time é um cansativo trabalho que merece entrada gratuita, pipoca e cerveja de graça.
Endivida-se acima da capacidade de pagar, gasta mais do que ganha, assina contrato sem ler, dá cheque sem provisão, espera sempre a ajuda de Deus para se sair bem de enrascadas que aprontou. Acusa o governo pelas dificuldades pessoais, pela chuva, pela enchente, pela seca e pelo engarrafamento no trânsito.
O brasileiro pobre gosta do luxo. Prefere as dificuldades da pobreza às vicissitudes da riqueza, Apieda-se do rico quando perde fortunas na roleta, mas se a enchente levar seus moveis e a casa junto diz ao repórter que o jeito é começar tudo de novo e que Deus há de ajudar.
Estaciona sobre a calçada, ultrapassa pela direita ou pelo acostamento. Fura fila com a maior cara de pau. Pego em alguma contravenção, dirá automaticamente que não sabia, ninguém foi à casa dele para informá-lo. Não lê jornal, não ouve noticiário de rádio ou TV, exceto futebol, novela e pegadinhas do Faustão. Não lê placas de trânsito, toma vaga de idoso ou de deficiente sem perceber e alega que tem pressa, é uma emergência.
Quer que a polícia prenda o filho dos outros e que o ladrão roube o vizinho. Está sempre pronto a subornar a polícia e a polícia a extorquir o cidadão. O ladrão rouba o banco e os que o prendem roubam o ladrão.
Joga lixo no chão. Latas e garrafas voam pela janela do carro ou do ônibus. Dirá que não foi ele, não viu, não sabe quem foi e tem raiva de quem sabe. É o Lula escrito e cuspido. Mente e gosta de ouvir mentiras. Acredita nas mentiras oficiais, extraoficiais, políticas e econômicas e não acredita quando lhe dizem a verdade. Rebate a mentira com outra. Todo brasileiro mente, do Presidente da República ao gari, do senador ao eleitor, do empresário ao sindicalizado, do patrão ao operário, do vigário ao coroinha, do bispo ao crente, da madame à empregada. Todos sabem que um mente ao outro porque a mentira se converteu em ordem.
Fala alto no restaurante, no celular, na rua, na sala de concerto, no cinema. Adora uma corrupçãozinha e a acha normal porque é pratica pelos de cima, do meio e de baixo. Faz negócios por baixo do pano, gruda-se no rico e no político para tirar vantagens pessoais.
O brasileiro não tem má fé, age retamente e as maracutaias as faz de caso pensado, sem segundas intenções. A falta de seriedade é de seu caráter meigo e cordial. É esse comportamento relaxado e irresponsável que o mundo admira e torna o Brasil o melhor dos mundos para se viver. Aqui temos as melhores e mais bem urdidas leis, mas raras são as que pegam. O mundo as copia, cumpre, as elogia e só não sabe fazer com elas o que nós inteligentemente realizamos. Eles as observam e o brasileiro passa o dia atrás do jeitinho para burlá-las.
Os brasileiros das Olimpíadas somos nós, campeões da Copa do Mundo de Futebol. Temos vocação para os extremos. Somos uma Belafra –Bélgica e Biafra – campeões da desigualdade e exportadores do bolsa família, sutil estratégia para movimentar o consumo em nome do combate à pobreza. O brasileiro é cheio de esperança, não desiste nunca e tem certeza que tudo se arranja e, no fim, tudo vai dar certo porque Deus é brasileiro, corta o bolo da festa e reparte alegremente a pizza.
Por isso, numa hora destas, olhando para as Olimpíadas de 2016, com lágrimas nos olhos e samba no pé, o carioca, cercado de 220 milhões de cidadãos astutos, se ajoelha ao pé do Corcovado e clama com voz embargada:
− Eu me orgulho de ser brasileiro.

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