quinta-feira, 8 de outubro de 2009

MEGASSALÁRIOS

É comovedora a atenção que certos setores da República dão à justa remuneração de seus funcionários. Cuidam não só dos excelentes salários que recebem – vinte mil reais ou mais − por mês, como das várias aposentadorias adquiridas de poderes distintos. Com esses dignificantes prêmios por inigualáveis serviços prestados ao povo e ao país, nossos personagens ilustres, entre eles os atuais presidentes da Câmara e do Senado, podem gozar do bom e do melhor, sem precisar, no fim do dia, contar as moedas que sobraram depois do jantar no Piantella.
Esse cuidado de pagar bem, não digo 25 mil reais, mas ao redor de 12 ou 15 mil, deveria ser estendido a todos os trabalhadores, do metalúrgico ao gari, do professor da escola primária à empregada doméstica.
Uma das preocupações do presidente da República, dos Ministros da Fazenda e Desenvolvimento Econômico, é a expansão do consumo que, por sua vez, estimula a indústria a produzir mais e mais, engrossando a barriga do PIB ao infinito. Ora, a fórmula para se conseguir o nobre intento do crescimento econômico é o bom salário. Com 15 mil reais no bolso todos os meses os cem milhões de trabalhadores não deixariam uma só geladeira nas lojas, arrebatariam todas as televisões e aparelhos de som, esvaziariam as agências de automóveis, limpariam todas as prateleiras de carnes e vinhos, esgotariam, num só dia, essa miudeza barata produzida na China. Além disso, se extinguiria o déficit habitacional.
Chegaríamos, assim, ao outro lado da pobreza por excesso de consumo. Seríamos pobres por excesso de bens dentro de casa, na rua, no mar e no ar. Não haveria mais estoques, nem oferta, nem competição. Total ausência de produtos. Filas intermináveis de consumidores com dinheiro no bolso diante de lojas e supermercados. Frustração geral.
Expressei essa sugestão a Pedro de Montemor. Criterioso, leitor das peças de Brecht, levou caridosamente seu pensamento aos futuros pobres e infelizes de um sistema econômico igualitário que pagasse os mesmos salários obtidos por ilustres personagens do país: os banqueiros. Não teriam a quem emprestar e, sem cobrança de juros e taxas, iriam à bancarrota.
Por estas últimas razões, as diferenças de salários não só se justificam como se impõem. Parte dos cidadãos pode consumir quanto queira. Outra parte, só o estritamente necessário para que não falte nas gôndolas, nas prateleiras e nos caixas-fortes dos bancos o imprescindível para continuar consumindo, sem perturbar a vida dos funcionários e executivos detentores de magassalários, obviamente merecidos.

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