domingo, 25 de outubro de 2009

MITO DO DESENVOLVIMENTO RURAL

Leio na Folha de São Paulo (11.10.2009) a opinião do ministro do MDA, Guilherme Cassel, sobre Um novo modelo de desenvolvimento rural. Depois de apresentar alguns números extraídos do IBGE e cuspir percentuais a esmo, sem esmiuçá-los, consegue iludir-se com esse novo modelo: “O Censo Agropecuário 2006 mostra que está em curso uma nova dinâmica social e produtiva no campo brasileiro. Uma dinâmica em que pequenos e médios produtores viraram sinônimo de qualidade de vida”.
Qualidade de vida é um chavão estéril. É o uso de expressões cunhadas que nada significam. Utilizo os números que o senhor. Cassel oferece aos leitores para entender sua pífia conclusão. O ministro não se utilizou dos principais dados do Censo relativos à educação que revelam as causas do desastre desse modelo de desenvolvimento rural. Informa ele que a agricultura familiar emprega 75% da mão de obra no campo, incluindo todos os familiares, característica desse sistema produtivo. A Agricultura Familiar responde por 38% do valor (não diz se é bruto ou líquido) da produção. O valor anual é de R$54,4 bilhões. Ao mesmo tempo, nos informa que existem 4,3 milhões de estabelecimentos de Agricultura Familiar.
Ora, o resultado econômico anual de cada estabelecimento é de R$12 mil, aproximadamente, pouco mais de R$1.000 por mês, divididos entre os cinco, sete ou mais membros da família. Este resultado final da nova dinâmica social e produtiva alcança a estupenda soma de R$170 mensais por pessoa ou R$5 per capita/dia dependendo no numero de familiares e agregados.
Pedro de Montemor, ao lhe mostrar esse dado, assegurou-me que se trata apenas de uma ironia fina do senhor Ministro que ganha, num mês, sentado em sala climatizada, o que o agricultor familiar consegue no ano. Mas esse êxito do agricultor se denomina qualidade de vida. Se o campo contasse com boas escolas não haveria quase 40% de analfabetos que não podem ler as provocantes opiniões do ministro sobre sua qualidade de vida. E se todos tivessem água encanada, canalização de esgoto e casas confortáveis, os cinco reais por pessoa seriam aceitáveis no começo do século passado.
Na cidade, uma diarista brasiliense recebe entre 40 e 80 reais por oito horas de trabalho. Os trabalhadores rurais, no Distrito Federal, não trabalham por menos de R$ 20,00. Talvez seja por isso que, cansados de migrar para as cidades grandes, os pequenos agricultores migram para o Bolsa Família. Seria melhor que o senhor Cassel defendesse os agricultores da semiescravidão a que o sistema produtivo do novo capitalismo petista os está submetendo por meio de endividamento impagável, denominado crédito rural, base do novo modelo de desenvolvimento rural, sinônimo de “qualidade de vida”..

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