quinta-feira, 6 de agosto de 2009

QUEM É BRASILIENSE

D. H. Lawrence (Lady Chatterley, 1928) lamentou que a nova Inglaterra das indústrias modernas, sem alma, e dos novos assentamentos operários, áridos e sem árvores, ambos arrasando a paisagem secular, estava destruindo a velha Inglaterra. Seriam mais felizes os habitantes da nova Inglaterra?
Subitamente, depois da Ia Guerra Mundial, os ingleses, estrangeiros no próprio país, começaram a agir como os rudes estrangeiros que deslocam os nativos e lhes impõem novas regras de convivência. Os novos habitantes colonizam os antigos.
A Brasília de hoje, invadida por estrangeiros nacionais de todas as classes, está desfigurando a Brasília de ontem, construída por quem nasceu com ela.
Quem nasceu em Brasília? Não se trata de fixar apenas a data em que a criança saiu do ventre materno para dizê-la brasiliense. Grande parte dos que nasceram no perímetro da cidade, cujos limites, hoje, são imprecisos, age como estrangeira. Sua principal relação com Brasília é ter sido expelida aqui do ventre da mãe, como os navios vomitam imigrantes em qualquer porto do globo. Só se tornarão cidadãos do país quando renascerem nele e forem amamentados pela seiva da terra e da cultura ainda que guardem em si as raízes originais.
Quem são esses estrangeiros que vêm mudando a face de Brasília? Os que a estão transformando num arremedo de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte ou da cidade do México. São os que pensam que abrir largas avenidas para a louca velocidade dos carros individuais seja o mesmo que modernizar uma cidade e um povo. Os que desconhecem o solo que pisam e, sem conhecê-lo, o maltratam, o enfeiam e o querem semelhante à charneca, à terra devastada, à miséria ambiental de onde fugiram. Os que, em nome da tecnologia, da eficiência, do progresso, do crescimento econômico a qualquer preço, usam a população incauta como bocas de consumo e bucha eletrônica da urna eleitoral.
Quem é brasiliense? Ser brasiliense não é o mesmo que ter casa em Brasília. Não importa onde haja nascido, é brasiliense quem nasce do ventre de Brasília concebida e amamentada pelo espírito da liberdade e da arte. Ser brasiliense é pertencer ao patrimônio cultural e urbanístico da humanidade e não apenas ao melhor IDH do Brasil.
A nova geração brasiliense, de onde quer que venha, mesmo que nasça nos limites imprecisos do quadrilátero urbano, há que renascer, pela educação, do ventre da única Brasília de ontem e ser batizado pelo bioma do cerrado para adquirir a nobreza da cidadania brasiliense.

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