quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O DITADOR DEMOCRÁTICO

Houve uma época em que dezenas de ditadores explícitos governavam pelo mundo afora. Os implícitos, na oposição, esperavam sua vez. Na América do Sul, os ditadores floresciam e abundavam. No Chile, Argentina, Uruguai, Paraguai, Brasil, Peru, Bolívia, há bem pouco tempo, as ordens emanadas vinham dos quartéis, ditadas por generais e marechais. Usavam um partido político domesticado para ladrar aos intrusos e lamber as botas de quem lhe dava comida e coleira.
O mundo da política foi mudando. Ditadura fechada, ordens verticais, disciplina militar do marcha soldado não se entendem com evolução tecnológica, velocidade da informação, TV, telefone celular, correio eletrônico. A sociedade se encheu de hackers mercenários. Nem a União Soviética nem a China resistiram à investida do Sistema cuja arma atômica é o mercado. O mercado democrático. O mercado tecnológico, industrial, comercial, político, cultural suscitou dezenas de ditadores implícitos que lhe fazem as vontades, o aperfeiçoam e, em nome dele, ditam normas e princípios, e proferem ameaças protegidos pela única verdade que só eles compreendem e detêm. Só os imbecis e os ignorantes não a aceitam.
Cada ditador implícito usa a retórica que mais lhe convém, seja de direita ou de esquerda ou de centro sem alterar a coluna vertical do Sistema divino e religioso do mercado. Sua missão é estimular o crescimento econômico ao infinito, refletido nos números do PIB que a vestal estatística prepara nas noites de orgia matemática.
Para um ditador implícito não importa o número de partidos políticos. Ele tem a receita e a dose para dopá-los. Os favores do poder se fragmentam em nacos compartilhados com os bajuladores de plantão que se embriagam com as honrarias e os honorários e estão dispostos a perder a pele para salvar o ditador.
O ditador dita o que é bom para o pobre e para o rico. O ditador não vê, não ouve e não sabe o que se passa a seu redor. Ditador implícito não assume nenhuma responsabilidade, sequer das idiotices e imbecilidades que vomita ao público boquiaberto.
A pior das ditaduras é a democrática que sustenta um sistema invisível e é ratificada na urna eletrônica. Mas não tenha medo de ser feliz, caro cidadão. A esperança é uma das forças que impulsionam o ser humano a arriscar na bolada da sorte. Também chamada virtude cardeal e não desiste nunca.

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